terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Jogos Vorazes Capitulo 25



Mutações. Sem dúvidas sobre isso. Eu nunca tinha visto esses cães, mas eles não são animais nascidos naturalmente. Eles lembram lobos enormes, mas lobos se equilibram sobre as patas traseiras? Lobos acenam para o resto do bando com a pata dianteira como se tivesse um pulso? Essas coisas eu posso ver a distância. De perto, tenho certeza de que mais atributos ameaçadores serão revelados.
Cato correu em linha direta para a Cornucópia, e sem perguntas eu o segui. Se ele pensa que é o lugar mais seguro, que sou eu para discutir? Além disso, mesmo que eu conseguia correr para a floresta, seria impossível para Peeta fazer esse caminho com aquela perna – Peeta!
Minhas mãos tinham acabado de tocar o metal da cauda pontuda da Cornucópia quando eu me lembro de que sou parte de um time. Ele está uns quinze metros atrás de mim, coxeando o mais rápido que consegue, mas os cães estão se aproximando rapidamente. Atirei uma flecha no bando e um cai, mas há muitos outros para tomar seu lugar.
Peeta está acenando para eu subir o chifre, “Vá, Katniss! Vá!”
Ele está certo. Não posso proteger nenhum de nós no chão. Começo a subir, escalando a Conucópia com minhas mãos e meus pés. A superfície de ouro puro foi desenhada para lembra o chifre curvado que nós enchemos na colheita, então há pequenas pontas e fendas para conseguir se agarrar de maneira decente. Mas depois de um dia sob o sol da arena, o metal está quente o bastante para queimar minhas mãos.
Cato está deitado no topo do chifre, sete metros acima do chão, lutando para recuperar o fôlego enquanto ele vomita sobre a ponta. Agora é a minha chance de acabar com ele. Paro no meio do caminho para cima do chifre e carrego outra flecha, mas quando estou quase deixando-a voar, ouço Peeta gritar. Eu me viro e vejo que ele acabou de alcançar a cauda, e os cães estão logo em sua cola.
“Suba!” grito. Peeta começa a subir atrasado não apenas pela sua perna, mas pela faca na sua mão. Atiro uma flecha na garganta do primeiro mutante que chega ao metal. Enquanto morre a criatura ataca, descuidosamente abrindo cortes em alguns de seus companheiros. É quando eu olho para as garras. Dez centímetros e claramente bem afiadas.
Peeta alcança meus pés e eu agarro seu braço e o puxo para cima. Então eu me lembro de Cato esperando no topo e me viro, mas ele está dobrado com câimbras e mais preocupado com os cães do que conosco. Ele fala algo ininteligível. O som de aspiração e rosnados vindo dos cães não está ajudando.
“O quê?!” Grito para ele.
“Ele disse, ‘Eles podem subir?’” responde Peeta, levando a minha atenção de volta para a base do chifre.
Os cães estão começando a se reunir. Enquanto eles se juntam, eles se levantam novamente para facilmente ficar de pé sobre suas patas traseiras, dando a eles um aspecto assustadoramente humano. Cada um tem uma pele grossa, alguns com o pelo liso, outros ondulados, e as cores variam de preto até o que posso descrever como loiro. Há algo neles, algo que faz os cabelos na minha nuca se arrepiarem, mas não posso dizer o quê.
Eles colocam seus focinhos no chifre, cheirando e provando o metal, colocando as patas sobre a superfície e fazendo sons agudos com a outra. Deve ser assim como eles se comunicam, porque o bando recua como se aguardasse. Então um deles, um cão de bom tamanho com pelos loiros macios e ondulados começa a comer e pula no chifre. As patas traseiras devem ser incrivelmente poderosas, porque elas chegam a meros três metros abaixo de nós, seus lábios rosados se repuxando para um ranger de dentes. Por um momento a coisa fica lá, e naquele momento percebo que o que me deixa incomodada nesses cães. Os olhos verdes brilhando para mim não são de nenhum cão ou lobo, nenhum canino que eu tenha visto.
Eles não inconfundivelmente humanos. E essa revelação mal é registrada quando percebo a coleira com o número 1 incrustado com jóias e o horror daquilo me atinge. O cabelo loiro, os olhos verdes, o número... é Glimmer.
Um som agudo escapa dos meus lábios e tenho problemas para segurar a flecha no lugar. Eu estive esperando por fogo, apenas consciente demais do meu suprimento diminuído de flechas. Esperando ver se as criaturas podiam, de fato, subir. Mas agora, mesmo quando o cão começou a deslizar para trás, incapaz de encontrar algum apoio no metal, mesmo quando eu posso ouvir o lento rangido das garras como unhas no quadro, eu atiro em sua garganta. O seu corpo se debate e cai no chão com uma pancada.
“Katniss?” Posso sentir o aperto de Peeta no meu braço.
“É ela!” grito.
“Quem?” pergunta Peeta.
Minha cabeça gira de lado a lado enquanto examino o bando, tomando os vários tamanhos e cores. O pequeno com pele vermelha e olhos cor de âmbar... Foxface! E ali, o cabelo pálido e olhos castanho-esverdeados do garoto do Distrito 9 que morreu quando nós lutamos pela mochila! E, pior o tudo, o menor cão, com pelo preto lustroso, grandes olhos castanhos e uma coleira onde se lê 11 entalhado. Mostrando os dentes com ódio. Rue...
“O que é, Katniss?” Peeta balança meu ombro.
“São eles. Todos eles. Os outros. Rue e Foxface e... todos os outros tributos,” eu sufoco.
Ouço Peeta arfar em reconhecimento. “O que eles fizeram a eles?Você não acha... que esses podem ser os olhos deles de verdade?”
Os olhos deles são o que menos me preocupa. E os cérebros deles? Eles têm alguma memória dos tributos reais? Eles foram programados para odiar nossos rostos particularmente porque nós sobrevivemos e eles foram insensivelmente assassinados? E os que nós matamos de verdade... eles acreditam que estarão vingando suas mortes?
Antes que eu consiga pensa nisso, os cães começam um novo assalto ao chifre. Eles se dividiram em dois grupos nos lados no chifre e estão usando aquelas traseiras poderosas para subirem. Um par de dentes de fecham a centímetros da minha mão e então ouço Peeta gritar, sinto o balanço do seu corpo, o peso pesado do garoto e cão puxando-me para o lado. Se não fosse pelo suporte do meu braço, ele estaria no chão, mas enquanto a coisa está aqui em cima, toma toda a minha força para nos manter na curva de trás do chifre. E mais tributos estão vindo.
“Mate, Peeta! Mate!” Estou gritando, e embora não possa ver exatamente o que está acontecendo, sei que ele deve ter escaqueado a coisa porque o aperto fica mais leve. Sou capaz de puxá-lo de volta para o chifre onde nós nos agarramos em direção ao topo, onde nos aguarda dois males menores.
Cato ainda não está de pé, mas sua respiração está mais lenta e sei que em breve ele vai se recobrar o bastante para vir atrás de nós, para nos lançar para a morte. Eu armo meu arco, mas a flecha acaba indo para um cão que só pode ser Thresh. Quem mais pularia não talto? Sinto um momento de alívio porque finalmente estamos acima da linha dos cães e eu acabo de me virar para encarar Cato quando Peeta dá um solavanco ao meu lado. Tenho a certeza de que o bando o pegou quando seu sangue respinga no meu rosto.
Cato está na minha frente, quase no extremo do chifre, segurando Peeta com uma gravata, cortando seu ar. Peeta está arranhando o braço de Cato, mas fracamente, como se estivesse confuso sobre se é mais importante respirar ou tentar conter o jorro de sangue que sai do buraco que um cão deixou na sua panturilha.
Eu miro um das minhas duas últimas flechas na cabeça de Cato, sabendo que não teria nenhum efeito se fosse no seu tronco ou nos membros, que posso ver agora que estão cobertos por um piro de roupa, uma malha cor de carne. Alguma armadura de ótima qualidade do Capitol. Era isso que estava no seu saco no banquete? Armadura para se defender contra minhas flechas? Bem, eles se esqueceram de mandar uma proteção para o rosto.
Cato apenas ri. “Atire em mim e ele cai comigo.”
Ele está certo. Se eu atirar nele e ele cair sobre os cães, é certo que Peeta vai morrer com ele. Chegamos a um beco sem saída. Não posso atirar em Cato sem matar Peeta, também. Ele não pode matar Peeta sem a garantia de uma flecha no seu cérebro. Ficamos parados como estátuas, procurando por uma saída.
Meus músculos estão tão tensos que parecem que vão se quebrar a qualquer momento. Meus dentes estão cerrados duramente. Os cães ficaram quietos e a única coisa que posso ouvir é o sangue batendo no meu ouvido bom.
Os lábios de Peeta estão ficando azuis. Se eu não fizer algo rapidamente, ele vai morrer de asfixia e então eu o perderei e Cato provavelmente vai usar seu corpo como uma arma contra mim. Na verdade, tenho certeza de que esse seja o plano de Cato, porque quando ele pára de rir, seus lábios formam um sorriso triunfante.
Como se fosse seu último esforço, Peeta levanta seus dedos, pingando sangue de sua perna, até o braço de Cato. Em vez de tentar se livrar do aperto, seus dedos mudam de direção e fazem um deliberado X sobre a parte de trás da mão de Cato. Cato percebe o que isso significa exatamente um segundo depois de mim. Posso dizer pelo modo como seu sorriso desapareceu de seus lábios. Mas é um segundo tarde demais porque, nessa hora, minha flecha está perfurando sua mão. Ele grita e por reflexo liberta Peeta, que bate contra ele. Por um momento terrível, penso que os dois vão cair. Eu corro para agarrar Peeta enquanto Cato perde o equilíbrio no chifre úmido de sangue e cai no chão.
Nós o ouvimos cair, o ar deixando seu corpo com o impacto, e então os cães o atacam. Peeta e eu nos abraçamos, esperando pelo canhão, esperando que a competição acabe, esperando sermos libertados. Mas isso não acontece. Não ainda. Porque esse é o clímax dos Hunger Games, e a audiência espera um show.
Eu não assisto, mas posso ouvir o ranger dos dentes, os rosnados, os uivos de dor tanto humano quanto de besta enquanto Cato avança sobre o bando de cães. Não posso entender como ele pode estar sobrevivendo até que me lembro da armadura o protegendo dos tornozelos até o pescoço e percebe como a noite pode ser longa. Cato deve ter uma faca ou uma espada ou alguma coisa, também, alguma coisa que ele tenha escondido nas suas roupas, porque de vez em quando há um grito de morte de um cão ou o som de metal quando lâminas colidem com o chifre de ouro. O combate continua ao lado da Cornucópia, e sei que Cato deve estar tentando fazer uma manobra que pode salvar a sua vida – voltar para a cauda do chifre e se reunir a nós. Mas no final, apesar das suas força e habilidade notáveis, ele é simplesmente derrotado.
Não sei quando tempo se passa, talvez uma hora ou mais, quando Cato cai no chão e ouvis os cães o agarrando, levando-o para dentro da Cornucópia. Agora vão acabar com ele, penso. Mas ainda não há nenhum canhão.
Cai a noite e o hino toca e não há nenhuma imagem de Cato no céu, apenas os gemidos fracos vindo do metal debaixo de nós. O ar gelado soprando pela planície me lembra de que os Games não acabaram e podem não acabar por sabe-se lá quanto tempo, e ainda não há garantia de vitória.
Viro minha atenção a Peeta e percebo que a perna dele está sangrando pior que nunca. Todos os nossos suprimentos, nossas mochilas, permaneceram embaixo perto do lago, onde nós os abandonamos quando corremos dos cães. Não tenho bandagens, nada para parar o fluxo de sangue da sua panturrilha. Embora eu esteja tremendo com o vento cortante, tiro minha jaqueta, removo minha blusa, e fecho minha jaqueta o mais rápido possível. Aquela prevê exposição faz com que meus dentes tremam além do meu controle.
O rosto de Peeta está pálido sob a luz da lua. Eu o faço deitar-se antes de sondar sua ferida. Sangue escorregadio e quente corre pelos meus dedos. Uma bandagem não é suficiente. Eu vi minha mãe amarrar um torniquete um punhado de vezes e tento replicá-lo. Corto uma manga da minha camisa, enrolo duas vezes ao redor da sua perna bem debaixo do seu joelho, e faço um nó. Eu não tenho uma vareta, então pego meu arco e insiro no nó, girando-o o mais apertado que ouso. É um negócio arriscado – Peeta pode acabar perdendo sua perna – mas quando eu peso isso com perder sua vida, que alternativa eu tenho? Eu enfaixo sua ferida com o resto da minha camisa e me deito ao seu lado.
“Não durma,” digo a ele. Não tenho certeza se isso é exatamente um protocolo médico, mas tenho medo de que, se ele durma, ele nunca irá acordar novamente.
“Você está com frio?” ele pergunta. Ele abre o zíper da sua jaqueta e me pressiono contra ele quando ele o fecha ao meu redor. É um pouco mais quente, dividir o calor dos nossos corpos dentro da minha dupla camada de jaquetas, mas é noite é uma criança. A temperatura vai continuar a cair.
Mesmo agora posso sentir a Cornucópia, que queimava quando eu subi pela primeira vez, lentamente virando gelo.
“Cato pode ganhar essa coisa ainda,” sussurro para Peeta.
“Não acredite nisso,” ele diz, puxando meu corpo, mas ele está tremendo mais do que eu.
As horas seguintes são as piores da minha vida, o que se você pensar bem significa muita coisa. O frio pode torturar o bastante, mas o pesadelo real é escutar Cato, gemendo, implorando, e finalmente apenas choramingando enquanto os cães trabalhavam nele. Depois de muito pouco tempo, eu não me importo mais com quem ele é ou o que ele fez, tudo que quero é que ele pare de sofrer.
“Por que eles apenas não o matam?” pergunto a Peeta.
“Você sabe por que,” diz, e me puxa mais para perto.
E eu sei. Nenhum telespectador daria as costas para o show agora. Do ponto de vista dos Gamemakers, essa é a última palavra em entretenimento.
E continua e continua e eventualmente consume completamente a minha mente, bloqueando memórias e esperanças de um amanhã, apagando tudo além do presente, que começo a acreditar que nunca vai mudar. Nunca haverá nada além de frio, medo e os sons agonizantes do garoto morrendo no chifre.
Peeta começa a dormir agora, e em cada vez que faz, eu me encontro gritando seu nome cada vez mais alto, porque se ele morrer agora, sei que provavelmente vou ficar completamente insana. Ele está lutando, provavelmente mais por mim do que por ele, e é difícil porque inconsciência seria uma forma própria de escapar. Mas a adrenalina que palpita pelo meu corpo nunca iria me permitir segui-lo, então não posso deixá-lo. Eu apenas não posso.
A única indicação da passagem do tempo estava no céu, o sutil movimento da lua. Então Peeta começa a apontá-lo para mim, insistindo que sei seu progresso e às vezes, por um momento, sinto um brilho de esperança antes que a agonia da noite me engula novamente.
Finalmente, ouço-o sussurrar que o sol está subindo. Abro meus olhos e encontro estrelas desaparecendo na luz pálida do amanhecer. Posso ver, também, como o rosto de Peeta se tornou pálido. Como o pouco o tempo que ele tem. E sei que tenho de levá-lo de volta para o Capitol.
Ainda assim, o canhão não atira. Pressiono meu ouvi bom contra o chifre e posso ouvir a voz dele.
“Acho que ele está mais perto agora. Katniss, você pode atirar nele?” Peeta pergunta.
Se ele estiver perto da boca, posso ser capaz. Seria um ato de misericórdia a esse ponto.
“Minha última flecha está no seu torniquete,” digo.
“Faça-o valer,” diz Peeta, abrindo o zíper da sua jaqueta, deixando-me livre.
Então eu tiro a flecha, tentando colocar o torniquete de volta o mais apertado que meus dedos congelados são capazes. Esfrego minhas mãos, tentando ganhar circulação. Quando eu rastejo até o extremo do chifre e fico na ponta, sinto as mãos de Peeta me dando suporte.
Leva alguns momentos para encontrar Cato na luz turva, no sangue. Então a massa de carne crua que costumava ser nosso inimigo faz um som, e sei onde sua boca está. E acho que o que ele está tentando dizer é por favor.
Pena, não vingança, manda a flecha até seu crânio. Peeta me puxa de volta, arco na mão, bainha vazia.
“Você conseguiu?” ele sussurra.
O tiro do canhão é a resposta.
“Então ganhamos, Katniss,” ele diz de forma vazia.
“Viva para nós,” solto, mas não há o prazer de vitória na minha voz.
Um buraco se abre na planície como se fosse combinado, o restante dos cães entram nele, desaparecendo como se a terra se fechasse acima deles.
Nós esperamos pelo aerobarco para tomar os restos de Cato, pelas trombetas da vitória que deveriam se seguir, mas nada acontece.
“Hey!” grito para o ar. “O que está acontecendo?” a única resposta é a vibração dos pássaros acordando.
“Talvez seja o corpo. Talvez tenhamos de nos distanciar,” diz Peeta.
Tento me lembrar. Você tem de se distanciar do tributo morto na morte final? Meu cérebro está muito confuso para ter certeza, mas qual seria a outra razão para a demora?
“Ok. Acha que pode conseguir chegar até o lago?” pergunto.
“Acho que é melhor tentar,” diz Peeta. Descemos pela causa do chifre e caímos no chão. Se a rigidez dos meus membros é assim ruim, como Peeta pode se mover? Eu me levanto primeiro, balançando e curvando meus braços e pernas até que acho que posso ajudá-lo a se levantar. De alguma forma, nós chegamos ao lago. Eu dou um punhado de água gelada para Peeta e tragoo o segundo para mim.
Um mockingjay dá um assobio longo e baixo, e lágrimas de alívio enchem meus olhos quando o aerobarco aparece e leva o corpo de Cato. Agora eles vão no levar. Agora podemos ir para casa.
Mas novamente não há nenhuma resposta.
“O que eles estão esperando?” diz Peeta fracamente. Entre a perda do torniquete e o esforço de andar até o lago, sua ferida se abriu novamente.
“Eu não sei,” digo. Seja o que for, não posso vê-lo perder mais sangue. Eu me levanto para encontrar um pedaço de pau, mas quase imediatamente encontro a flecha que ricocheteou na armadura de Cato. Isso acontece com a outra flecha. Quando eu me inclino para pegá-las, a voz de Claudius Templesmith explode na arena.
“Saudações aos finalistas do septuagésimo quarto Hunger Games. A mudança anterior foi revogada. Uma análise mais atenta às regras revelou que apenas um vencedor está autorizado,” diz. “Boa sorte e que as chances estejam em seu favor.”
Há um pequeno barulho de estática e então nada mais. Eu fito Peeta com descrença enquanto a verdade começa a fazer sentido. Eles nunca tiveram a intenção de deixar nós dois vivos. Isso tudo foi planejado pelos Gamemakers para garantir o confronto mais dramático da história. E como uma tola, caí nessa.
“Se você pensar bem, isso não é uma surpresa,” ele diz suavemente. Observo como ele dolorosamente consegue ficar de pé. Então ele está andando na minha direção, como se fosse em câmera lenta, sua mão está puxando a faca do seu cinto –
Antes que eu esteja consciente das minhas ações, meu arco está carregado com a flecha apontada para o seu coração. Peeta levanta suas sobrancelhas e vejo que a faca já não está mais em sua mão, e sim caiu na água. Deixo minha arma cair e dou um passo para trás, meu rosto queimando em o que só pode ser vergonha.
“Não,” diz. “Faça.” Peeta manca em minha direção e coloca a arma de volta às minhas mãos.
“Não posso,” digo. “Não vou.”
“Faça. Antes que eles mandem aqueles mutantes de volta ou algo do tipo. Não quero morrer como Cato,” ele diz.
“Então você atira em mim,” digo furiosa, empurrando a arma de volta para ele. “Você atira em mim e vai para casa e viva com isso” E quando eu digo, sei que a morte agora mesmo seria mais fácil que viver com isso.
“Você sabe que eu não posso,” Peeta diz, jogando fora a arma. “Ótimo, vou primeiro, de qualquer forma.” Ele se inclina para baixo e retira sua bandagem, eliminando a barreira final entre seu sangue e a terra.
“Não, você não pode se matar,” digo. Estou de joelhos, cobrindo desesperadamente a bandagem sobre sua ferida.
“Katniss,” ele diz. “É o que eu quero.”
“Você não vai me deixar aqui sozinha,” digo. Porque se ele morrer, eu nunca irei para casa, nunca realmente. Vou passar o resto da minha vida nessa arena tentando pensar na minha saída.
“Escute,” ele diz me puxando para eu ficar de pé. “Nós dois sabemos que eles precisam ter um vencedor. E só pode ser um de nós. Por favor, faça isso. Por mim.” E ele começa a falar o quanto me ama, o que a vida seria sem mim, mas eu parei de escutar porque suas palavras anteriores estão presas na minha cabeça, girando desesperadamente.
Nós dois sabemos que eles precisam ter um vencedor.
Sim, eles precisam ter um vencedor. Sem um vencedor, toda a coisa seria jogada na cara dos Gamemakers. Eles teriam falhado com o Capitol. Possivelmente seriam executados, lenta e dolorosamente, enquanto as câmeras exibiriam cara imagem em todo o país.
Se Peera e eu morrêssemos, eu eles pensassem que iríamos morrer...
Meus dedos se atrapalham com a bolsa no meu cinto, soltando-a. Peeta vê e suas mãos agarram meu pulso. “Não, não vou te deixar.”
“Confie em mim,” sussurro. Ele segura meu olhar por um longo tempo antes de me solta. Eu solto a parte superior da bolsa e coloco um punhado de bagas na sua mão. Então encho a minha. “No três?”
Peeta se inclina para baixo e me beija uma vez, muito gentilmente. “No três,” diz.
Ficamos de pé, costas contra costas, nossas mãos vazias apertando uma a do outro.
“Mostre-os. Quero que todos vejam,” diz.
Eu entendo meus dedos, e as bagas escuras brilham ao sol. Dou um último aperto na mão de Peeta como um sinal, ou um adeus, e começamos a contar. “Um.” Talvez eu esteja errada. “Dois.” Talvez eles não se importem se nós morrêssemos. “Três!” É tarde demais para mudar de idéia. Levanto minha mão para minha boca, lançando um último olhar para o mundo. AS bagas acabam de passar pelos meus lábios quando as trombetas começam a tocar.
A voz frenética de Claudius Templesmith grita acima delas. “Parem! Parem! Damas e cavalheiros, tenho o prazer de apresentar os vencedores dos septuagésimo quarto Hunger Games, Katniss Everdeen e Peeta Mellark! Dou-lhes – os tributos do Distrito Doze!” 

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