terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Jogos Vorazes Capitulos 4 e 5

undefined
undefined


Por alguns momentos, Peeta e eu captamos a cena do nosso mentor tentando se levantar do material vil e escorregadio do seu estômago. A fetidez do vômito e do álcool bruto quase traz minha refeição para fora. Nós trocamos um olhar. Obviamente Haymitch não era muita coisa, mas Effie Trinket está certa quanto a uma coisa, uma vez dentro da arena ele é tudo que teremos. Como se por um acordo silencioso, Peeta e eu tomamos cada um braço de Haymitch e o ajudamos a se levantar.
“Eu tropecei?” Haymitch pergunta. “Cheira ruim.” Ele esfrega sua mão no nariz, manchando seu rosto de vômito.
“Vamos levá-lo de volta ao seu quarto,” diz Peeta. “Te limpar um pouco.”
Nós meio que carregamos Haymitch de volta a sua cabine. Desde que não podemos exatamente jogá-lo na cama bordada, o rebocamos para dentro da banheira e abrimos o chuveiro. Ele nem nota.
“Ok,” Peeta diz para mim. “Eu continuo daqui.”
Não posso evitar me sentir um pouco grata visto que a última coisa que eu quero fazer é despir Haymitch, lavar o vômito dos pêlos do seu peito, e enfiá-lo numa cama. Possivelmente Peeta está tentando fazer uma boa impressão nele, para ser seu favorito uma vez que os Games comecem. Mas julgando o estado em que ele está, Haymitch não terá nenhuma memória amanhã.
“Tudo bem,” digo. “Posso mandar alguém do Capitol vir te ajudar.” Há muitos deles no trem. Cozinhando para nós. Esperando por nós. Guardando-nos. Tomar conta de nós é trabalho deles.
“Não. Eu não os quero,” diz Peeta.
Eu aceno e sigo para meu próprio quarto. Entendo como Peeta se sente. Eu não posso suportar a visão das pessoas de Capitol. Mas fazê-las lidar com Haymitch poderia ser uma pequena forma de vingança. Então eu ponderei a razão para ele insistir em cuidar do Haymitch e repentinamente eu penso, É porque ele está sendo gentil. Justo como ele foi gentil ao me dar o pão.
A idéia foge rapidamente. O tipo Peeta Mellark é muito mais perigoso para mim do que o tipo cruel. Pessoas gentis sempre têm uma forma de trabalhar seus caminhos para dentro da mim e se enraizar lá. E eu não posso deixar Peeta fazer isso. Não onde nós estamos indo. Então eu decido, desse momento em diante, ter o mínimo possível para fazer com o filho do padeiro.
Quando eu entro no meu quarto, o trem está parado numa plataforma para abastecer. Abro rapidamente a janela, jogo os biscoitos que o pai de Peeta me deu fora do trem, e fecho a janela com força. Não mais. Não mais de nenhum deles.
Infelizmente, o pacote dos biscoitos bate no chão e se abre num remendo de dandelions pela pista. Vejo a imagem apenas por um momento, porque o trem começa a se mover, mas é o bastante. O bastante para me lembrar de outro dandelion no campo da escola anos atrás...
Eu tinha acabado de me virar do rosto machucado de Peeta Mellark quando vi o dandelion* e eu soube que a esperança não estava perdida. Eu o arranquei cuidadosamente e me apressei para casa. Agarrei um balde e a mão de Prim e segui para Meadow e sim, ele estava pontilhada de ervas daninhas amarelas. Depois de nós as arrancarmos, nós procuramos nos arredores dentro do muro por provavelmente um 1,5 km até que nós tínhamos enchido o balde com dandelions verdes, raízes e flores. Naquela noite, nos empanturramos com uma salada de dandelion e o resto do pão da padaria.
“Que mais?” Prim me perguntou. “Que mais comida nós podemos encontrar?”
“Todo tipo de coisa,” prometi a ela. “Só tenho que lembrá-las.”
* Tipo de erva
Minha mãe pegou um livro que ela tinha trazido com ela da loja farmacista. As páginas eram feitas de velho pergaminho e coberta de pinturas de plantas. Blocos de caligrafia limpa disseram seus nomes, onde os juntando, quando eles florescem, seus usos medicinais. Mas meu pai acrescentou outras entradas no livro. Plantas para comer, não curar. Dandelions,
ervas, cebolas selvagens, pinhos. Prim e eu passamos o resto da noite debruçadas sobre essas páginas.
No dia seguinte, nós faltamos à escola. Por um tempo eu fiquei andando perto dos muros de Meadow, mas finalmente juntei coragem para ir debaixo da cerca. Era a primeira vez que tinha estado lá sozinha, sem as armas do meu pai para me proteger. Mas eu recuperei o pequeno arco e flechas que ele tinha feito para mim de um tronco oco. Eu provavelmente não fui mais que 20 metros floresta adentro naquele dia. Na maior parte do tempo, eu fiquei empoleirada nos galhos de um velho carvalho, esperando que uma caça viesse. Após algumas horas, eu tive a sorte de matar um coelho.
Eu tinha acertado uns poucos coelhos antes, com a ajuda do meu pai. Mas dessa vez eu tinha feito sozinha.
Não tínhamos tido carne em meses. A visão do coelho pareceu mexer algo na minha mãe. Ela despertou, pele de carcaça, e fez uma sopa com a carne e algumas verduras que Prim tinha juntado. Então ela ficou confusa e voltou para cama, mas quando a sopa estava feita, nós a fizemos comer uma tigela.
A floresta se tornou nossa salvação, e a cada dia eu ia um pouco além a seus braços. Era devagar no princípio, mas eu estava determinada a nos alimentar. Roubei ovos dos ninhos, peguei peixe com redes, às vezes eu conseguia acertar um esquilo ou um coelho para a sopa, e juntava as diversas plantas que surgiram sob meus pés. Plantas eram enganadoras. Muitas são comestíveis, mas um bocado falso e você está morta. Eu verifico uma e outra vez as plantas que eu colhi das figuras do meu pai. Eu nos mantenho vivas.
Qualquer sinal de perigo, um uivo distante, uma quebra de galho inexplicável, faz-me correr de volta para a cerca. Então começo a me arriscar subir nas árvores para escapar de cães selvagens que rapidamente ficam entediados e vão embora. Ursos e gatos vivem mais adentro, talvez não gostando do fedor de fuligem do nosso distrito.
Em 8 de Maio, eu fui para o Edifício da Justiça, registrei-me para o tesserae, e levei para casa meu primeiro lote de grãos e óleo no vagão de brinquedo de Prim. No oitavo dia de cada mês eu tinha o direito de fazer o mesmo. Eu não podia parar de caçar e colher, é claro. Os grãos não são o suficiente para viver, e havia outras coisas para comprar, sabão e leite e cordas. O que nós não precisávamos absolutamente para comer, comecei a negociar no Hob. Foi assustador entrar naquele lugar sem meu pai do meu lado, mas as pessoas tinham o respeitado, e me aceitaram. Caça era caça depois de tudo, não importa quem pegou. Eu também vendi nas portas dos fundos de clientes ricos na cidade, tentando lembrar o que meu pai tinha me dito e aprendendo alguns poucos truques também. O açougueiro compraria meus coelhos mas não os esquilos. O padeiro aproveitaria os esquilos, mas só negociaria um se a esposa não tivesse por perto. O Pacifista Chefe adorava perus selvagens. O prefeito tinha uma paixão por morangos.
No final do verão, eu estava me lavando em um lago quando notei as plantas crescendo ao meu redor. Altas com folhas com pontas afiladas. Florescendo com três pétalas brancas. Eu me ajoelhei na água, meus dedos escavando na lama macia, e puxei um punhado de raízes. Bulbos azulados que não parecem muita coisa, mas cozidos ou assados eram tão bons quanto batatas. “Katniss,” eu disse alto. É a planta cujo nome me foi dado. E eu ouvi a voz do meu pai brincando, “Contanto que você ache a si mesma, você nunca morrerá de fome.” Passei horas agitando o leito da lagoa com meus dedos dos pés e uma vara, colhendo os bulbos que flutuavam para a superfície. Naquela noite nós banqueteamos com peixe e raízes de katniss até que todos nós, pela primeira vez em meses, estávamos cheios.
Lentamente, minha mãe retornou para nós. Ela começou a limpar e cozinhar e guardar alguma da comida que eu trouxe para o inverno. Pessoas negociam conosco ou pagam em dinheiro pelos recursos médicos dela. Um dia, eu a ouvi cantando.
Prim estava emocionada por tê-la de volta, mas continuei observando, esperando que ela desaparecesse de nós novamente. Não confiei nela. E em algum pequeno lugar retorcido dentro de mim eu a odiava pela sua fraqueza, pela sua negligência, pelos meses em que ela
nos deixou de lado. Prim a perdoou, mas eu coloquei um pé atrás com a minha mãe, coloquei um muro para me proteger de precisar dela, e nada nunca mais foi o mesmo entre nós.
Agora eu ia morrer sem nunca ter ajeitado tudo. Eu pensei em como eu tinha gritado com ela hoje no Edifício da Justiça. Eu tinha dito que a amava, também, no entanto. Então talvez deva ter balanceado.
Por um momento eu fico de pé olhando pela janela do trem, desejando poder abri-la de novo, mas incerta do que poderia acontecer numa velocidade tão alta. À distância, vejo luzes de outro distrito. 7? 10? Não sei. Penso nas pessoas em suas casas, arrumando-se para dormir. Imagino minha casa, com as persianas apertadas. O que elas estão fazendo agora, minha mãe e Prim? Estão na mesa comendo a refeição? Sopa de peixe e morangos? Ou isso está intocado em seus pratos? Elas assistiram o resumo dos eventos do dia na velha TV a bateria que fica na mesa contra a parede? Certamente, houve mais lágrimas. Minha mãe está segurando a barra, sendo forte pela Prim? Ou ela já começou a escapulir, deixando o peso do mundo nos ombros frágeis da minha irmã?
Prim sem dúvida dormirá com minha mãe hoje à noite. O pensamento daquele Buttercup velho e imundo se colocando na cama para vigiar Prim me conforta. Se ela chorar, ele vai intrometer-se em seus braços e enrolar-se lá até ela se acalmar e dormir. Eu estou muito satisfeita por não tê-lo afogado.
Imaginar minha casa me faz doer de solidão. Esse dia parece interminável. Gale e eu podíamos estar comendo amoras apenas essa manhã? Parecia que tinha sido há um longo tempo. Como um longo sonho deteriorado num pesadelo. Talvez, se eu for dormir, acordarei de volta no Distrito 12, onde eu pertenço.
Provavelmente as gavetas estão cheias de camisolas, mas eu apenas tiro minha camisa e calças e subo na cama só com a roupa íntima. Os lençóis eram feitos de tecido macio e sedoso. Uma manta grossa e macia me dá conforto imediatamente.
Se eu vou chorar, agora é a agora. De manhã, eu vou ser capaz de lavar o dano feito pelas minhas lágrimas do meu rosto. Mas nenhuma lágrima veio. Eu estou cansada e paralisada demais para chorar. A única coisa que sinto é um desejo de estar em qualquer outro lugar. Então deixo o trem me balançar para o esquecimento.
Luz cinza está escapando através das cortinas quando a batida me desperta. Escuto a voz de Effie Trinket, chamando para me levantar. “Levanta, levanta, levanta! Hoje vai ser um grande, grande, grande dia!” Tento imaginar, por um momento, como deve ser dentro da cabeça daquela mulher. Que pensamentos a preenchem durante as horas? Que sonhos vêm a ela a noite? Não tenho idéia.
Coloco os trajes verdes de volta visto que não estão realmente sujos, só levemente amarrotados por passar a noite no chão. Meus dedos traçam o círculo ao redor do pequeno mockinjay e penso na floresta, no meu pai, e na minha mãe e Prim acordando, tendo que colocar as coisas nos lugares.
Eu dormi com a trança elaborada que minha mãe fez para a colheita e não parece muito ruim, então eu a deixo. Não importa. Não podemos estar longe do Capitol agora. E uma vez que nós cheguemos à cidade, meu estilista ditará minha aparência para a cerimônia de abertura hoje à noite, de qualquer forma. Eu só espero que eu pegue alguém que não pense que nudez é a última palavra em moda.
Quando entro no vagão restaurante, Effie Trinket me tocou de leve com uma xícara de café preto. Ela está murmurando obscenidades sob sua respiração. Haymitch, sua face inchada e vermelha das indulgências do dia anterior, está dando risadas. Peeta segura um pãozinho e parece um pouco embaraçado.
“Sente-se! Sente-se!” diz Haymitch, acenado para mim. No momento em que eu sento na minha cadeira sirvo-me de um enorme prato de comida. Ovos, presunto, pilhas de batatas fritas. Uma terrina de frutas fica sobre o gelo para manter-se fria. A cesta de pãezinhos colocada a minha frente manteria minha família por uma semana. Há um elegante jarro de sujo de laranja. Ao menos eu acho que é suco de laranja. Eu só experimentei laranja uma vez,
no ano novo, quando meu pai trouxe uma como um banquete especial. Uma xícara de café. Minha mãe adora café, que nós quase nunca podíamos bancar, mas parece apenas amargo e fino para mim. Uma xícara de algo de um marrom forte que eu nunca tinha visto.
“Eles chamam de chocolate,” diz Peeta. “É bom.”
Eu tomo um gole do líquido quente, doce e cremoso e um tremor me percorre. Mesmo com o resto da refeição me chamando, eu o ignoro e termino a minha xícara. Então engulo todo o gole que seguro, que é uma quantidade substancial, sendo cuidadosa para não exagerar nessa coisa rica. Uma vez, minha mãe me contou que eu sempre comia como se nunca mais fosse ver comida novamente. E eu falei, “Não vou a menos que eu a traga para casa.” Isso a silenciou.
Quando meu estômago parece que vai botar para fora, eu me inclino para trás e olho para meus companheiros de café da manhã. Peeta ainda está comendo, tirando pedaços dos pães e os mergulhando no chocolate quente. Haymitch não tem dado muita atenção ao seu prato, mas ele está tomando uma taça de um suco vermelho que ele mantém diluído com um líquido claro de uma garrafa. Julgando pela espuma, é algum tipo de bebida. Não conheço Haymitch, mas eu tenho o visto freqüentemente o bastante no Hob, Jogando punhados de dinheiro em um canto com uma mulher que vende líquido branco. Ele estará incoerente no momento em que nós chegarmos ao Capitol.
Noto que detesto Haymitch. Sem dúvida os tributos do Distrito 12 têm chance. Não é só que nós estivermos desnutridos e sem treinamento. Alguns dos nossos tributos tinham sido fortes o bastante para fazer algo. Mas nós dificilmente conseguimos patrocinadores e ele é em grande parte o motivo. Mas pessoas ricas pegam tributos – ou porque eles estão apostando neles ou simplesmente para ter o direito de se gabar de ter escolhido o vencedor – esperam alguém com mais classe que Haymitch para lidar.
“Então, você é para, supostamente, dar-nos conselhos,” digo para Haymitch.
“Aqui está um conselho. Fique viva,” diz Haymitch, e então explode em risadas. Troco um olhar com Peeta antes de lembrar que eu não tenho nada a fazer com ele. Estou surpresa de ver dureza em seus olhos. Ele geralmente parece tão brando.
“Isso é muito divertido,” diz Peeta. De repente ele joga a taça fora da mão de Haymitch. Ela se quebra no chão, mandando o líquido vermelho para a parte detrás de trem. “Só não para nós.”
Haymicth considera isso por um momento, então coça Peeta no maxilar, jogando da sua cadeira. Quando ele se vira para pegar a bebida, eu coloco minha faca na mesa entre sua mão e a garrafa mal errando seus dedos. Eu me esforço para desviar de sua batida, mas ela não veio. Em vez disso ele se senta de volta e dá uma olhada para nós.
“Bem, o que é isso?” diz Haymitch. “Eu realmente peguei um par de lutadores esse ano?”
Peeta se levanta do chão e pega um punhado de gelo debaixo da terrina de frutas. Ele começa a levá-lo para a marca vermelha de seu maxilar.
“Não,” diz Haymitch, o parando. “Deixe o machucado aparecer. A audiência pensará que você o trocou com outro tributo antes de você mesmo fazer algo na arena.”
“Isso é contra as regras,” diz Peeta.
“Somente se eles te pegarem. Esse machucado dirá que você brigou, você não foi pego, ainda melhor,” diz Haymitch. Ele se vira para mim. “Você pode acertar qualquer coisa com a faca além da mesa?”
O arco e a flecha são minhas armas. Mas eu passei um bom tempo atirando facas também. Às vezes, se eu tinha ferido um animal com a flecha, era melhor pegar a faca também, antes de me aproximar. Noto que se eu quero a atenção de Haymitch, esse é o meu momento para fazer uma impressão. Arranco minha faca da mesa, consigo o controle da lâmina, e então a atiro na parede do outro lado do quarto. Eu estava de fato apenas esperando uma sólida cravada, mas ela se aloja na fresta entre duas panelas, fazendo-me parecer muito melhor do que sou.
“Fiquem de bem ali. Vocês dois,” diz Haymitch, acenando para o meio do aposento. Nós obedecemos e ele nos circula, cutucando-nos como animais às vezes, checando nossos
músculos, examinando nossas faces. “Bem, vocês não parecem inteiramente perdidos. Parecem combinar. E uma vez que os estilistas os pegarem, você serão atraentes o bastante.”
Peeta e eu não questionamos isso. Os Hunger Games não são uma competição de beleza, mas os tributos mais bonitos sempre parecem conseguir mais patrocinadores.
“Ok, vou fazer um acordo com vocês. Vocês não interferem com a minha bebida, e eu ficarei sóbrio o bastante para ajudá-los,” diz Haymitch. “Mas vocês têm que fazer exatamente o que eu digo.”
Isso não é muito um acordo, mas ainda é um grande passo adiante comparado a dez minutos atrás quando nós não tinhamos nenhuma ajuda.
“Ótimo,” diz Peeta.
“Então nos ajude,” digo. “Quando nós entrarmos na arena, qual é a melhor estratégia no Cornucopia para alguém –”
“Uma coisa de cada vez. Em poucos minutos, nós estaremos entrando na estação. Vocês serão colocados nas mãos dos estilistas. Vocês não gostarão do que eles fazem com vocês. Mas não importa o quê, não resistam,” diz Haymitch.
“Mas –” eu começo.
“Sem mais. Não resistam,” diz Haymitch. Ele pega a garrafa de bebida da mesa e deixa o vagão. Enquanto as portas fecham atrás dele, o vagão fica escuro. Há ainda algumas poucas luzes dentro, mas fora é como se a noite tivesse caído novamente. Noto que nós devemos estar num túnel que corre através das montanhas para o Capitol. As montanhas formam uma barreira natural entre o Capitol e os distritos orientais. É quase impossível entrar do leste exceto através dos túneis. Essa vantagem geográfica foi um fator importante na derrota dos distritos que me levou a ver um tributo hoje. Desde que os rebeldes tinham que escalar as montanhas, eles eram alvos fáceis para as forças aéreas do Capitol.
Peeta Mellark e eu ficamos em silêncio enquanto o trem movia-se com velocidade. O túnel continua e continua e eu penso nas toneladas de rocha que me separam do céu, e meu peito se aperta. Odeio ser envolvida numa pedra dessa forma. Lembra das minas e do meu pai, emboscado, incapaz de atingir a luz do sol, enterrado para sempre na escuridão.
O trem finalmente começa a diminuir de velocidade e de repente uma luz brilhante inunda o compartimento. Nós não podemos evitar. Ambos Peeta e eu corremos para a janela para ver o que nós tínhamos visto apenas na televisão, o Capitol, a cidade governante de Panem. As câmeras não tinham mentido sobre sua grandeza. De fato, eles não tinham capturado o bastante de toda a magnificência dos edifícios cintilantes em um arco-íris de cores que se erguem ao ar, os carros reluzentes que andam nas largas ruas pavimentadas, as pessoas vestidas de forma estranha com cabelos bizarros e faces pintadas que nunca perderam uma refeição. Todas as cores parecem artificiais, o rosa muito profundo, o verde muito brilhante, o amarelo doloroso aos olhos, como os discos redondos de um doce duro que nós nunca podemos bancar na minúscula loja de doces no Distrito 12. As pessoas começam a nos apontar avidamente enquanto eles reconhecem um trem de tributo entrando na cidade. Dou um passo para longe da janela, nauseada pelo excitamento deles, sabendo que eles não podem esperar para nos ver morrer. Mas Peeta continua lá, na verdade acenando e sorrindo para a tola multidão. Ele só para quando o trem entra na estação, bloqueando-nos de suas vistas.
Ele me vê olhando para ele e encolhe os ombros. “Quem sabe?” ele diz. “Um deles pode ser rico.”
Tenho o julgado mal. Penso nas suas ações desde a colheita começar. O aperto amigável na minha mão. Seu pai mostrando os biscoitos e prometendo alimentar Prim... Peeta o fez fazer aquilo? Suas lágrimas na estação. Voluntariando-se para lavar Haymitch, mas então o desafiando essa manhã quando aparentemente a abordagem cara-legal tinha falhado. E agora acenando na janela, já tentando ganhar a multidão.
Todos os pedaços ainda estão se encaixando, mas eu percebo que ele tem um plano formado. Ele não tem aceitado sua morte. Ele já está lutando duro para sobreviver. O que significa que o tipo Peeta Mellark, o garoto que me deu o pão, está lutando duro para me matar. 
 
 
 

R-i-i-i-p! Eu cerrei meu dentes enquanto Venia, uma mulher com cabelo azul-piscina e tatuagens douradas acima de suas sobrancelhas, puxa um pedaço de pano da minha perna, arrancando o cabelo abaixo dela. “Perdão!” ela grita em seu tolo sotaque de Capitol. “É que você é tão peluda!”
Por que essas pessoas sempre falam tão alto? Por que suas mandíbulas mal abrem quando elas falam? Por que o final das frases delas sobem como se elas estivessem fazendo uma pergunta? Vogais estranhas, palavras cortadas, e sempre um zunido na letra s... não é de se espantar que é impossível não imitá-los.
Venia faz o que deveria ser um rosto simpático. “Boa notícia, contudo. Esse é o último. Pronta?” Eu agarro as pontas da mesa na qual estou sentada e aceno. A faixa final dos pelos da minha perna é arrancada com um puxão violento.
Eu estou no Centro de Remodelagem por mais de três horas e eu ainda não conheci meu estilista. Aparentemente ele não tem interesse em me ver até que Venia e os outros membros da minha equipe de preparação tenham resolvido alguns problemas óbvios. Isso incluíra esfregar meu corpo com greda arenosa que removeu não só sujeira, mas pelo menos três camadas de pele, transformando minhas unhas em formas uniformes, e primariamente livrando meu corpo de pelos. Minhas pernas, braços, torso, axilas, e partes das minhas sobrancelhas tinham sido livradas dos pelos, deixando-me como um pássaro depenado, pronto para assar. Eu não gosto disso. Minha pele está dolorida e formigante e intensamente vulnerável. Mas eu tinha mantido minha parte do acordo com Haymich, e nenhuma objeção cruzou meus lábios.
“Você está indo muito bem,” diz algum cara chamado Flavius. Ele dá uma chacoalhada em suas mechas espirais laranjas e aplica uma camada nova de batom roxo em sua boca. “Se há uma coisa que não suportamos, é um choramingão. Ensebem ela!”
Venia e Octavia, uma mulher rechonchuda cujo corpo inteiro fora tingido de um tom pálido de verde-ervilha, me esfregam com uma loção que primeiramente dói, mas depois alivia minha pele ferida. Então eles me puxam da mesa, removendo o fino robe que eu fora permitida a usar dentro e fora. Eu fico parada lá, completamente nua, enquanto os três me circulam, empunhando pinças para remover todos os últimos pedacinhos de pelo. Eu sei que deveria estar embaraçada, mas eles são tão diferentes de pessoas que eu não estou mais auto-consciente do que se um trio de pássaros estranhamente coloridos estivesse bicando ao redor do meu pé.
Os três recuam e admiram seu trabalho. “Excelente! Você quase parece um ser humano agora!” diz Flavius, e todos eles riem.
Eu forço meus lábios em um sorriso para mostrar como estou grata. “Obrigada,” eu digo docemente. “Não temos muito motivo para parecermos bem no Distrito Doze.”
Isso os conquista completamente. “É claro que você não tem, pobre querida!” diz Octavia batendo suas mãos em sofrimento por mim.
“Mas não se preocupe,” diz Venia. “Quando Cinna terminar com você, você vai estar absolutamente linda!”
“Nós prometemos! Você sabe, agora que nos livramos de todos aqueles pelos e sujeira, você não é mesmo horrível!” diz Flavius encorajadoramente. “Vamos chamar Cinna!”
Eles se lançam para fora da sala. É difícil odiar a minha equipe de preparação. Eles são uns idiotas totais. E ainda assim, de uma maneira estranha, eu sei que eles estão sinceramente tentando me ajudar.
Eu olho para as frias paredes e para o chão branco e resisto ao impulso de recuperar meu robe. Mas esse Cinna, meu estilista, certamente me fará removê-lo imediatamente. Ao invés, minhas mãos vão para o meu penteado, a única área do meu corpo que fora dita a minha equipe de preparação para deixar quieta. Meus dedos acariciam as tranças sedosas que minha mãe tão cuidadosamente arrumou. Minha mãe. Eu deixei seu vestido e sapatos azuis no chão do vagão, nunca pensando em recuperá-los, em tentar manter um pedaço dela, de casa. Agora
eu desejava que tivesse recuperado. A porta se abre e um jovem que deve ser Cinna entra. Eu fico surpresa por ver o quanto ele parece normal. A maioria dos estilistas que eles tinham entrevistado na televisão tinham cabelos tão pintados, tinham tantos desenhos de estêncil, e eram tão cirurgicamente alterados que eram grotescos. Mas o cabelo curto de Cinna parece ser do seu tom natural de castanho. Ele está com uma simples camiseta e calça pretas. A única concessão de auto-mudança parece ser o delineador metálico dourado que foi aplicado com uma mão leve. Destaca os grãos de dourado em seus olhos verdes. E, apesar do meu nojo por Capitol e seu senso fashion horrível, eu não consigo parar de pensar em como ele é atraente.
“Olá, Katniss. Eu sou o Cinna, seu estilista,” ele diz em uma voz baixa que de alguma forma carece das afetações de Capitol.
“Olá,” eu me aventurei cuidadosamente.
“Só me dê um momento, está certo?” ele pergunta. Ele anda ao redor do meu corpo nu, não me tocando, mas tomando nota de cada centímetro dele com seus olhos. Eu resisto ao impulso de cruzar meus braços sobre meu peito. “Quem arrumou o seu cabelo?”
“Minha mãe,” eu digo.
“É lindo. Clássico, realmente. E em equilíbrio quase perfeito com o seu perfil. Ela tem dedos muito espertos,” ele diz.
Eu tinha esperado alguém exibicionista, alguém mais velho tentando desesperadamente parecer mais jovem, alguém que me via como um pedaço de carne a ser preparado num prato. Cinna não correspondeu a nenhuma dessas expectativas.
“Você é novo, não é? Eu não acho que eu o vi antes,” eu digo. A maior parte dos estilistas são familiares, constantes na concentração dinâmica dos tributos. Alguns estiveram em volta por a minha vida inteira.
“Sim, esse é o meu primeiro ano nos Games,” diz Cinna.
“Então eles lhe deram o Distrito Doze,” eu digo. Novatos geralmente acabam conosco, o distrito menos desejável.
“Eu pedi pelo Distrito Doze,” ele diz sem maiores explicações. “Por que não coloca seu robe e batemos um papo?”
Puxando meu robe, eu o sigo por uma porta para uma sala de estar. Dois sofás vermelhos encaram uma mesa baixa. Três paredes estão vazias, a quarta é inteiramente de vidro, providenciando uma janela para a cidade. Eu consigo ver pela luz que deve ser por volta do meio-dia, apesar do céu ensolarado ter ficado nublado. Cinna me convida para sentar em um dos sofás e toma seu lugar na minha frente. Ela aperta um botão de um lado da mesa. O topo se divide e debaixo sobre um segundo tampo de mesa que guarda nosso lanche. Frangos e pedaços de laranja cozinhados em uma molho cremoso estavam deitados numa cama de grãos branco-perolados, minúsculas ervilhas e cebolas, pãozinhos no formato de flores, e para sobremesa, um pudim da cor de mel. Eu tento imaginar coletar eu mesma essa refeição lá em casa. Frangos são caros demais, mas eu podia me virar com um peru selvagem. Eu precisaria atirar num segundo peru para rocar por uma laranja. O leite de cabra teria que substituir o creme. Nós podemos plantar ervilhas no jardim. Eu teria que pegar cebolas selvagens na floresta. Eu não reconheço o grão, nossa própria ração de tessera cozinha e vira um mingau marrom feio. Pãozinhos chiques significam outra troca com o padeiro, talvez dois ou três esquilos. E quanto ao pudim, eu não consigo nem adivinhar o que tem dentro dele. Dias caçando e reunindo coisas para essa única refeição e ainda assim seria uma substituição pobre da versão do Capitol.
Como deve ser, eu me pergunto, viver num mundo onde a comida aparece ao toque de um botão? Como eu passaria as horas que agora eu dedico a passar um pente na floresta procurando por sustento se fosse tão fácil de arranjar? O que eles fazem o dia todo, essas pessoas em Capitol, além de decorar seus corpos e esperar por uma nova descarga de tributos chegarem e morrerem para sua diversão?
Eu olhei para cima e achei os olhos de Cinna treinados nos meus. “Como devemos parecer desprezíveis para você,” ele diz.
Ele tinha visto isso na minha cara ou de algum modo lido meus pensamentos? Ele está certo, contudo. Todos eles são podres e desprezíveis.
“Não importa,” diz Cinna. “Então, Katniss, sobre o seu traje para a cerimônia de abertura. Minha parceira, Portia, é a estilista do seu companheiro de tributo, Peeta. E nosso pensamento atual é vesti-la com um traje complementário,” diz Cinna. “Como você sabe, é comum refletir o sabor do distrito.”
Para as cerimônias de abertura, você deve usar algo que sugira a principal indústria do seu distrito. Distrito 11, agricultura. Distrito 4, pescaria. Distrito 3, fábricas. Isso significa que vindos do Distrito 12, Peeta e eu estaremos em algum tipo de vestimenta de mineiros de carvão. Já que os macacões largos dos mineiros são particularmente adequados, nossos tributos geralmente acabam em trajes reduzidos e chapéus com lâmpadas frontais. Um ano nossos tributos foram completamente nus e cobertos em pó negro para representar poeira de carvão. É sempre horroroso e não ajuda em nada a conquistar a platéia em nosso favor. Eu me preparo para o pior.
“Então, eu estarei em um traje de mineiro de carvão?” Eu pergunto, esperando que não seja indecente.
“Não exatamente. Veja, Portia e eu achamos que o negócio de mineiros de carvão é muito exagerado. Ninguém se lembrará de você com isso. E ambos vemos como nosso trabalho transformar os tributos do Distrito Doze inesquecíveis," diz Cinna.
Eu ficarei nua, com certeza, eu penso.
“Então ao invés de nos focarmos na própria mineiração de carvão, vamos nos focar no carvão,” diz Cinna. Nua e coberta em poeira negra, eu penso. “E o que fazemos com o carvão? Nós o queimamos,” diz Cinna.
“Você não tem medo de fogo, tem, Katniss?” Ele vê minha expressão e sorri.
Algumas horas depois, eu estou vestida no que será ou o traje mais sensacional ou o mais fatal das cerimônias de abertura. Eu estou num macacão colado simples e preto que me cobre do tornozelo até o pescoço. Brilhantes botas de couro enlaçadas até os meus joelhos. Mas é a capa agitada feita de jorros de laranja, amarelo, e vermelho e chapéu combinando que define esse traje. Cinna planeja tocar fogo neles logo antes da nossa carruagem entrar nas ruas.
“Não são chamas de verdade, é claro, só um pouco de fogo sintético que Poria e eu inventamos. Você estará perfeitamente segura,” ele diz. Mas eu não estou convencida de que não ficarei perfeitamente tostada na hora que alcançarmos o centro da cidade.
Meu rosto está relativamente limpo de maquiagem, só um pouco de iluminador aqui e ali. Meu cabelo fora escovado e então trançado pelas minhas costas no meu estilo normal. “Eu quero que a audiência reconheça você quando você estiver na arena,” diz Cinna sonhadoramente. “Katniss, a garota que estava pegando fogo.”
Passa pela minha mente que a conduta calma e normal de Cinna esconde um completo louco.
Apesar da revelação dessa manhã sobre o caráter de Peeta, eu estou na verdade aliviada quando ele aparece, vestido em um traje idêntico. Ele deve conhecer fogo, sendo o filho de um padeiro e tudo. Sua estilista, Portia, e o time dela acompanhando-o ao entrar, e todos estão absolutamente tontos de animação sobre o furor que causaremos. Exceto Cinna. Ele simplesmente parece um pouco fatigado enquanto aceita os parabéns.
Somos movidos rapidamente para o andar de baixo do Centro de Remodelagem, o que é essencialmente um estábulo gigante. A cerimônia de abertura está para começar. Pares de tributos estão sendo colocados em carruagens puxadas por times de quatro cavalos. Os nossos são negros como carvão. Os animais são tão bem treinados, ninguém nem mesmo precisa guiar suas rédeas. Cinna e Portia nos dirigem para a carruagem e cuidadosamente arrumam as posições dos nossos corpos, guarnecendo nossas capas, antes de saírem para fazerem consultas um com o outro.
“O que você acha?” eu sussurro para Peeta. “Do fogo?”
“Eu arranco a sua capa se você arrancar a minha,” ele diz por dentes cerrados.
“Fechado,” eu digo. Talvez, se conseguirmos tirá-las cedo o bastante, possamos evitar as piores queimaduras. É ruim, contudo. Eles nos jogarão na arena não importa em que condição estejamos. “Eu sei que prometemos a Haymitch que faríamos exatamente o que eles dissessem, mas eu não acho que ele considerou esse ângulo.”
“Onde está Haymitch, de qualquer jeito? Ele não deveria nos proteger desse tipo de coisa?” diz Peeta.
“Com todo aquele álcool nele, provavelmente não é aconselhável tê-lo por perto de chamas,” eu digo.
E de repente estamos os dois rindo. Eu suponho que ambos estamos tão nervosos sobre os Games e, mais prementemente petrificados em sermos transformados em tochas humanas, que não estamos agindo sensivelmente.
A música de abertura começa. É fácil de ouvir, explodindo por Capitol. Portas massivas deslizaram-se para revelar as ruas enfileiradas com pessoas. A viagem dura por volta de vinte minutos e acaba na Cidade Circular, onde eles nos recebem, tocam o hino, e nos escoltam para o Centro de Treinamento, que será nossa casa/prisão até que os Games comecem.
Os Tributos do Distrito 1 viajam numa carruagem puxada por cavalos brancos de neve. Eles parecem tão bonitos, pintados com spray de prata, em túnicas de bom gosto brilhando com jóias. O Distrito 1 faz itens de luxo para Capitol. Você consegue ouvir os urros da multidão. Eles são sempre favoritos.
Distrito 2 entra em posição para segui-los. Num piscar de olhos, estamos todos nos aproximando da porta e eu consigo ver que entre o céu nublado e a tarde, a luz está ficando cinza. Os tributos do Distrito 11 estão saindo quando Cinna aparece com uma tocha acessa. “Vamos lá, então,” ele diz, e antes que ambos possamos reagir ele toca fogo nas nossas capas. Eu arfo, esperando pelo calor, mas há só uma leve sensação de cócegas. Cinna sobe perante nós e incendeia nossas toucas. Ele solta um suspiro de alívio. “Funciona.” Então ele gentilmente coloca uma mão sob meu queixo. “Lembrem-se, cabeças erguidas. Sorrisos. Eles vão amar vocês!”
Cinna pula da carruagem e tem uma última ideia. Ele grita algo para nós, mas a música o afoga. Ele grita novamente e gesticula.
“O que ele está dizendo?” Eu pergunto ao Peeta. Pela primeira vez, eu olho para ele e percebo que, incandescendo com as chamas falsas, ele está deslumbrante. E eu devo estar também.
“Eu acho que ele disse para segurarmos as mãos,” diz Peeta. Ele agarra minha mão direita com sua esquerda, e olhamos para Cinna para confirmação. Ele assente e faz um jóia, e essa é a última coisa que eu vejo antes de entrarmos na cidade.
O inicial alarme da multidão quando aparecemos rapidamente mudou para aplausos e gritos de “Distrito Doze!” Todas as cabeças viraram na nossa direção, puxando o foco das três carruagens a nossa frente. De primeira, fico congelada, mas então eu capturo-nos em uma enorme tela de televisão e fico chocado por parecermos tão estonteantes. No crepúsculo aprofundante, a luz do fogo ilumina nossos rostos. Parecemos estar deixando uma trilha de fogo com nossas capas flutuantes. Cinna estava certo sobre a maquiagem mínima, ambos parecemos mais atraentes, mas absolutamente reconhecíveis.
Lembrem-se, cabeças erguidas. Sorrisos. Eles vão amar vocês! Eu ouço a voz de Cinna em minha cabeça. Eu levanto meu queixo um pouco mais alto, coloco meu sorriso mais vencedor, e aceno com minha mão livre. Estou feliz por ter Peeta agora para me apoiar em equilíbrio, ele é tão firme, sólido como uma pedra. A medida que eu ganho confiança, eu de verdade sopro alguns beijos para a multidão. As pessoas em Capitol estão pirando, nos molhando com flores, gritando nossos nomes, nossos primeiros nomes, os quais eles se deram ao trabalho de encontrar no folheto. A música golpeante, os aplausos, e a admiração cavaram seu caminho para o meu coração, e eu não consigo suprimir minha animação. Cinna me deu uma grande vantagem. Ninguém me esquecerá. Não a minha aparência, não o meu nome. Katniss. A garota que estava pegando fogo.
Pela primeira vez, eu sinto uma centelha de esperança crescendo em mim. Certamente deve haver um patrocinador disposto a me pegar! E com um pouco de ajuda extra, alguma comida, a arma certa, por que eu deveria me contar fora dos Games?
Alguém me jogou uma rosa vermelha. Eu pego-a, dou uma cheirada delicada, e sopro um beijo de volta na direção geral da pessoa que deu. Uma centena de mãos se esticam para pegar meu beijo, como se fosse uma coisa real e tangível.
“Katniss! Katniss!” Eu consigo ouvir meu nome sendo chamado de todos os lados. Todos querem os meus beijos.
Não é até eu entrar na Cidade Circular que eu percebo que eu devo ter parado completamente a circulação na mão de Peeta. De tão apertado que eu estive segurando-a. Eu olho para baixo para nossos dedos entrelaçados enquanto afrouxo o meu aperto, mas ele recupera seu aperto na minha. “Não, não me solte,” ele diz. A luz do fogo relampeja em seus olhos azuis. “Por favor. Eu talvez caia dessa coisa.”
“Está bem,” eu digo. Então eu continuo segurando, mas eu não consigo evitar me sentir estranha em relação a maneira com que Cinna nos uniu. Não é realmente justo nos apresentar como uma equipe e então nos trancar em uma arena para nos matarmos.
As doze carruagens enchem o labirinto da Cidade Circular. Nos prédios que circulam a Circular, cada janela está cheia com os cidadãos mais prestigiosos de Capitol. Nossos cavalos puxam nossa carruagem bem na mansão do Presidente Snow, e nós paramos. A música acaba com um adorno.
O presidente, um homem pequeno e magro com cabelo branco como papel, dá as boas-vindas oficiais de um balcão acima de nós. É tradição cortar para os rostos dos tributos durante a fala. Mas eu consigo ver na tela que nós estamos conseguindo muito mais do que a nossa conta de tempo o ar. Quanto mais escuro fica, mais difícil fica tirar os olhos das nossas capas flutuantes. Quando o hino nacional toca, eles realmente se esforçam para cortar rapidamente para cada par de tributos, mas a câmera fica presa na carruagem do Distrito 12 enquanto desfila ao redor do círculo uma última vez e desaparece no Centro de Treinamento.
As portas acabaram de fechar atrás de nós quando somos engolfados pelos times de preparação, que mal estão entendíveis enquanto tagarelam sobre a nossa glória. Enquanto eu olho ao redor, eu noto que um monte de outros tributos estão nos lançando olhares sujos, o que confirma o que eu tinha suspeitado, nós literalmente brilhamos mais que todos eles. Então Cinna e Portia estão lá, nos ajudando a descer da carruagem, cuidadosamente removendo nossas capas flamejantes e toucas. Portia os extingue com algum tipo de spray de um canastrel.
Eu percebo que ainda estou colada em Peeta e forço meus dedos duros a se abrirem. Ambos massageamos nossas mãos.
“Obrigado por ficar segurando em mim. Eu estava ficando um pouco trêmulo lá,” diz Peeta.
“Não pareceu,” eu digo a ele. “Estou certa de que ninguém notou.”
“Estou certo de que não notaram nada além de você. Você devia usar chamas mais freqüentemente,” ele diz. “Elas combinam com você.” E então ele me dá outro sorriso que parece tão genuinamente doce com exatamente o toque certo de timidez que uma quentura inesperada corre por mim.
Um sinal de aviso dispara na minha cabeça. Não seja tão estúpida. Peeta está planejando como matar você, eu lembro a mim mesma. Ele está te encantando para torná-la uma vítima fácil. Quanto mais agradável ele for, mais mortal ele é.
Mas porque dois podem jogar esse jogo, eu fico na ponta dos pés e beijo sua bochecha. Bem em seu machucado. 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário