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Enquanto eu passo em direção ao elevador, arremesso meu arco para um lado e meu coldre para o outro. Eu passo esbarrando pelos Avoxes boquiabertos que guardam os elevadores e bato no botão doze com meu punho. As portas deslizam juntas e eu me movo rapidamente para cima. Eu na verdade o faço voltar para o chão antes que minhas lágrimas comecem a correr pelas minhas bochechas. Posso ouvir os outros me chamando da sala de estar, mas eu vou voando pelo hall em direção ao meu quarto, abro a porta, e me jogo na cama. Então eu realmente começo a soluçar.
Agora eu
fiz! Agora eu realmente arruinei tudo! Se eu tinha mesmo um fantasma de chance,
sumiu quando eu mandei aquela flecha voando para os Gamemakers. O que eles
farão comigo agora? Prender-me? Executar-me? Cortar a minha língua e me tornar
uma Avox, assim eu posso esperar pelos futuros tributos de Panem? O que eu
estava pensando, atirando nos Gamemakers? É claro, eu não estava pensando, eu
estava atirando na maçã porque eu estava muito irritada por ser ignorada. Eu
não estava tentando matar nenhum deles. Se eu estivesse, eles estariam mortos!
Oh, o que
importa? Não é como se eu fosse ganhar os Games de qualquer forma. Quem se
importa com o que eles fazem comigo? O que me assusta de verdade é o que eles
podem fazer com a minha mãe e Prim, como minha família pode sofrer agora por
causa da minha impulsividade. Eles vão tomar seus poucos pertences, ou mandar a
minha mãe para prisão e
Prim para
a casa comunitária, ou matá-las? Eles não a matariam, matariam? Por que não? O
que importa a eles?
Eu devia
ter ficado e me desculpado. Ou rido, como se fosse uma grande brincadeira.
Então talvez eu achasse alguma indulgência. Mas em vez disso que corri daquele
lugar da maneira mais desrespeitosa possível.
Haymitch
e Effie estão batendo na minha porta. Eu grito para eles irem embora e
eventualmente eles vão. É preciso pelo menos uma hora para eu chorar tudo para
fora. Então eu só fico deitada encolhida na cama, afagando os lençóis de seda,
assistindo ao pôr-do-sol acima do doce e artificial Capitol.
Inicialmente,
eu espero os guardas virem me buscar. Mas à medida que o tempo passa, parece
menos possível. Eu me acalmo. Eles ainda precisam de uma garota tributo do
Distrito 12, não precisam? Se os Gamemakers querem me punir, eles podem fazê-lo
publicamente. Esperar até eu estar na arena e atiçar animais selvagens famintos
em mim. Pode apostar que eles terão certeza que eu não tenho um arco e uma
fecha para me defender.
Antes
disso, eles me darão uma pontuação tão baixa, que ninguém em juízo certo iria
me patrocinar. Isso é o que vai acontecer hoje à noite. Visto que o treinamento
não é aberto a observadores, os Gamemakers anunciam uma pontuação para cada
jogador. Dá a audiência um ponto de partida para as apostas que continuarão
através do Games. O número, que é entre um e doze, um sendo irremediavelmente
ruim e doze sendo alta de forma inalcançável, anuncia a promessa de um tributo.
A marca não é uma garantia de que a pessoa ganhará. É apenas uma indicação do
potencial que o tributo mostrou no treino. Freqüentemente, por causa das
variáveis na real arena, tributos com alta pontuação caem quase imediatamente.
E há poucos anos, um garoto que ganhou os Games recebeu apenas um três. Ainda
assim, os pontos podem ajudar ou prejudicar um tributo individualmente em
termos de patrocínio. Eu estava esperando que minhas habilidades em atirar
pudessem me conseguir um seis ou sete, mesmo se eu não sou particularmente
poderosa. Agora tenho certeza que terei a pontuação mais baixa dos vinte e
quatro. Se ninguém me patrocinar, minhas chances de ficar viva diminuem para
quase zero.
Quando
Effie bate na porta para me chamar para o jantar, decido que posso ir também.
As pontuações serão televisionadas hoje à noite. Não é como se eu pudesse
esconder o que aconteceu para sempre. Eu vou para o banheiro e lavo minha face,
mas ainda está vermelha e manchada.
Todos estão esperando na mesa, até Cinna e Portia. Eu
queria que os estilistas não tivessem aparecido porque, por alguma razão, eu
não gosto da idéia de desapontá-los. É como se eu tivesse jogado fora todo o
bom trabalho que eles fizeram nas cerimônias de abertura sem pensar. Evito
olhar para todo mundo enquanto tomo uma pequena colherada da sopa de peixe. O
salgado me lembra as minhas lágrimas.
Os
adultos começam a jogar conversa fora sobre a previsão do tempo, e eu deixo os
meus olhos encontrar os de Peeta. Ele levanta as sobrancelhas. Uma pergunta. O
que aconteceu? Eu só balanço um pouco a minha cabeça. Então, enquanto eles
estão servindo o prato principal, eu ouço Haymitch dizer, “Ok, chega de conversa
fiada, só o quão ruim vocês foram hoje?”
Peeta tem
um sobressalto. “Eu não sei se isso importa. Até o momento que eu apareci,
ninguém nem se importou em olhar para mim. Eles estavam cantando algum tipo de
canção de bebida, eu acho. Então, eu atirei alguns objetos pesados até que eles
me disseram que eu podia ir.”
Isso me
faz sentir um pouquinho melhor. Não é como se Peeta tivesse atacado os
Gamemakers, mas ao menos ele estava provocando, também.
“E você,
querida?” diz Haymitch.
De alguma
forma Haymitch me chamando de querida me marca o suficiente para que eu pelo
menos seja capaz de falar. “Eu atirei uma flecha nos Gamemakers.”
Todo
mundo pára de comer. “Você o quê?” O horror na voz de Effie confirma minhas
piores suspeitas.
“Eu
atirei uma flecha neles. Não exatamente neles. Na direção deles. Como Peeta
disse, eu estava atirando e eles estavam me ignorando e eu só... eu só perdi a
minha cabeça, então atirei na maçã da boca daquele estúpido porco assado
deles!” eu disse audaciosamente.
“E o que
eles disseram?” diz Cinna cuidadosamente.
“Nada. Ou
eu não sei. Eu saí depois disso,” digo.
“Sem ser
dispensada?” arfa Effie.
“Eu me
dispensei,” digo. Lembro de como prometi a Prim que eu tentaria de verdade
ganhar e senti como se uma tonelada de carvão tivesse caído sobre mim.
“Bem, é
isso,” diz Haymitch. Então ele passa manteiga no pão.
“Você
acha que eles me prenderão?” pergunto. “Duvido. Seria um saco te substituir a
esse ponto,” diz Haymitch.
“E a
minha família?” digo. “Elas serão punidas?”
“Não
acho. Não faria muito sentido. Veja, eles teriam que revelar o que aconteceu no
Centro de Treinamento para ter um efeito que valha a pena na população. Pessoas
saberiam o que você fez. Mas eles não podem visto que é um segredo, portanto
seria uma perda de tempo.” Diz Haymitch. “É mais provável que eles tornem sua
vida um inferno na arena.”
“Bem,
eles já prometeram fazer isso conosco de qualquer forma,” diz Peeta.
“Verdade,”
diz Haymitch. E eu percebo que o impossível tem acontecido. Eles estão de fato
me animando. Haymitch pega uma costela de porco com seus dedos, o que faz Effie
congelar, e embebeda no seu vinho. Ele arranca um pedaço de carne e começa a
rir. “Como foram as caras deles?”
Posso
sentir as beiras da minha boca subindo. “Chocados. Terrificados. Uh, ridículos,
alguns deles.” Uma imagem estoura dentro da minha cabeça. “Um homem jogou para
trás uma tigela de ponche.”
Haymitch
gargalha e todos nós começamos a rir exceto Effie, embora até ela esteja
abafando um sorriso. “Bem, eles mereceram. É trabalho deles prestar atenção em
você. E só porque você vem do Distrito Doze não é desculpa para te ignorarem.”
Então seus olhos olham ao redor como se ela tivesse dito algo escandaloso.
“Sinto muito, mas é assim que eu penso,” ela diz para ninguém em particular.
“Eu vou
conseguir uma pontuação muito ruim,” digo.
“Pontuações
apenas importam se eles são muito bons, ninguém presta muita atenção em
pontuações ruins ou medíocres. Pelo o que eles sabem, você podia estar
escondendo seus
talentos para conseguir uma pontuação baixa de propósito.
Pessoas usam essa estratégia,” disse Portia.
“Eu
espero que seja assim que as pessoas interpretem o quatro que eu provavelmente
conseguirei,” diz Peeta. “E olhe lá. Sério, não há nada menos impressionante
que assistir uma pessoa pegar uma bola pesada e jogá-la alguns metros. Uma
quase caiu no meu pé.”
Eu dei
uma risada para ele e percebi que estava faminta. Corto um pedaço do porco,
passo no purê de batatas, e começo a comer. Está ok. Minha família está salva.
E se eles estão salvos, nenhum dano real foi feito.
Depois da
janta, nós nos sentamos na sala de estar para assistir o anunciamento das
pontuações na televisão. Primeiro eles mostram uma foto do tributo, então
mostram suas pontuações abaixo. Os Tributos Profissionais naturalmente
conseguem notas de oito a dez. A maioria dos outros jogadores tem média cinco.
Surpreendentemente, a pequena Rue vem com um sete. Eu não sei o que ela mostrou
aos jurados, mas ela é tão pequena que deve ter sido impressionante.
Distrito
12 vem por último, como o usual. Peeta consegue um oito do, no mínimo, par de
Gamemakers que deviam tê-lo assistido. Eu empurro minhas unhas contra minhas
palmas enquanto meu rosto aparece, esperando o pior. Então eles mostram o
número onze na tela.
Onze!
Effie
Trinket solta um berro, e todo mundo está batendo nas minhas costas e me
animando e me parabenizando. Mas isso não parece real.
“Deve ter
sido um engano. Como... como isso pôde acontecer?” eu pergunto a Haymitch.
“Acho que
eles gostaram do seu temperamento,” ele diz. “Eles tem um show para carregar.
Eles precisam de alguns jogadores esquentadinhos.”
“Katniss,
a garota que estava em chamas,” diz Cinna e me dá um abraço. “Oh, espere até
você ver seu vestido para a entrevista.”
“Mais
chamas?” eu pergunto.
“De uma
espécie,” ele diz de forma travessa.
Peeta e
eu parabenizamos um ao outro, outro momento estranho. Ambos fizemos bem, mas o
que isso significa para o outro? Eu escapo para o meu quarto o mais rápido
possível e entro sob os cobertores. O estresse do dia, particularmente o choro,
me esgotou. Eu divago, suavizada, aliviada, e com o número onze ainda brilhando
atrás das minhas pálpebras.
No
amanhecer, eu deito na cama por um momento, assistindo o sol aparecer numa bela
manhã. É domingo. Um dia fora de casa. Pergunto-me se Gale já está na floresta.
Usualmente nós devotamos todo o Domingo para estocar para toda a semana.
Levantando cedo, caçando e colhendo, então negociando no Hob. Penso em Gale sem
mim. Ambos podemos caçar sozinhos, mas somos melhor como um par.
Particularmente se estamos tentando pegar uma caça sozinhos. Mas também nas pequenas
coisas, ter um par suaviza a carga, poderia mesmo fazer a árdua tarefa de
preencher a mesa da minha família divertida.
Eu estava
lutando sozinha por uns seis meses quando eu pela primeira vez vi Gale na
floresta. Era um Domingo de Outubro, o ar frio e pungente como coisas mortas.
Eu tinha passado a manhã competindo com os esquilos por nozes e a tarde
suavemente quente vadeando em lagoas rasas colhendo katniss. A única comida que
eu tinha pegado era um esquilo que tinha praticamente corrido por sobre meus
dedos dos pés em busca de bolotas, mas os animais ainda estariam em ação quando
a neve queimasse minhas outras fontes de comida. Tendo desviado mais longe do
que o habitual, eu estava voltando apressada para casa, arrastando seu saco de
tecido grosso quando eu percebi um coelho morto. Ele estava pendurado pelo seu
pescoço por um fino fio uns trinta centímetros acima da minha cabeça. Uns
quinze metros mais longe estava outro.
Eu
reconheci a armadilha porque meu pai as tinha usado. Quando a presa é pega, ela
é puxada para o ar fora do alcance de animais famintos. Eu tinha tentando usar
armadilhas todo o verão sem sucesso, então eu não podia evitar deixar cair meu
saco para examiná-la. Meus dedos estavam quase no fio acima dos coelhos quando
uma voz chamou. “Isso é perigoso.”
Eu pulei para trás quando Gale se materializava de trás de
uma árvore. Ele devia estar me assistindo o tempo todo. Ele tinha apenas
quatorze, mas tinha claramente 1,80m e era tão adulto para mim. Eu o tinha
visto por aí em Seam e na escola. E uma outra vez. Ele tinha perdido o pai na
mesma explosão que matou o meu. Em Janeiro, eu tinha ficado do lado enquanto
ele recebia sua medalha de coragem do Edifício da Justiça, outro filho mais
velho sem pai. Lembrei de seus dois irmãos pequenos agarrando sua mãe, uma
mulher cuja barriga inchada anunciava que ela estava apenas há alguns dias de
dar a luz.
“Qual é o
seu nome?” ele disse, aproximando-se e soltando o coelho da armadilha. Ele
tinha outros três pendurados no seu cinto.
“Katniss,”
disse, mal audível.
“Bem,
Catnip, a punição por roubar é a morte, ou você não tinha ouvido?” ele disse.
“Katniss,”
eu disse mais alto. “E eu não estava roubando. Eu só queria ver sua armadilha.
As minhas nunca pegam nada.”
Ele fez
uma cara feia para mim, não convencido. “Então de onde você conseguiu o
esquilo?”
“Eu
atiro.” Puxei meu arco do meu ombro. Eu ainda estava usando a versão pequena
que meu pai tinha feito para mim, mas eu estava praticando com o maior quando
podia. Estava esperando que com a primavera eu pudesse ser capaz de derrubar
uma caça maior.
Os olhos
de Gale se fixaram no arco. “Posso vê-lo?” eu entreguei a ele. “Só lembre-se, a
punição por roubar é a morte.”
Aquela
foi a primeira vez que eu o vi sorrir. Transformava-o de alguém ameaçador para
alguém que você desejaria conhecer. Mas levou alguns meses para eu retornar
esse sorriso.
Nós
conversamos sobre caçada, então. Eu contei a ele que eu podia ser capaz de conseguir
para ele um arco se ele tinha algo para negociar. Não comida. Eu queria
conhecimento. Eu queria preparar minhas próprias emboscadas que pegassem uma
correia de coelhos gordos em um dia. Ele concordou que algo podia ser
trabalhado. Enquanto as estações passavam, nós rancorosamente começamos a
dividir nosso conhecimento, nossas armas, nossos lugares secretos que eram
cheios de ameixas selvagens ou perus. Ele me ensinou a capturar com a armadilha
e a pescar. Eu mostrei a ele quais as plantas para comer e eventualmente dei a
ele um dos nossos preciosos arcos. E então um dia, sem nenhum de nós dizê-lo,
tornamo-nos um time. Dividindo o trabalho e as presas. Tendo certeza que ambas
nossas famílias tinham comida.
Gale me
dava uma sensação de segurança que eu tinha carência desde a morte do meu pai.
Seu companheirismo substituiu as longas horas solitárias na floresta. Eu me
tornei muito melhor em caçar quando não tinha que olhar por sobre meu ombro
constantemente, quando alguém estava assistindo minhas costas. Mas ele se
tornou muito mais do que um companheiro de caçada. Ele se tornou meu
confidente, alguém com quem eu podia dividir os pensamentos que eu nunca podia
dar voz dentro do muro. Em troca, ele confiou em mim. Estar fora na floresta
com Gale... às vezes eu era feliz de verdade.
Eu o
chamei de amigo, mas no último ano parecia uma palavra muito casual para o que
Gale era para mim. Uma pontada de saudades dispara pelo meu peito. Se ele só
tivesse aqui comigo agora! Mas, claro, eu não quero isso. Eu não o quero na
arena onde ele estaria morto em poucos dias. Eu só... eu só sentia a falta
dele. E odeio estar tão sozinha. Ele sente minha falta? Ele deve.
Penso no
onze brilhando sob meu nome na última noite. Sei exatamente o que ele diria
para mim. “Bem, há algum espaço para melhorias ali.” E então ele me daria um
sorriso e eu o retornaria sem hesitação agora.
Não posso
evitar comparar o que eu tenho com Gale com o que eu finjo que tenho com Peeta.
Como eu nunca questiono os motivos de Gale quando eu não faço nada mais que
duvidar do último. Não é uma comparação justa, de fato. Gale e eu estávamos
jogando juntos pela necessidade mútua de sobreviver. Peeta e eu sabemos que a
sobrevivência do outro significa a própria morte. Como se iludir com isso?
Effie está batendo na porta, lembrando-me que há outro
“grande, grande, grande dia!” pela frente. Amanhã a noite será nossa entrevista
na televisão. Acho que toda a equipe terá suas mãos cheias nos preparando para
isso.
Eu me
levanto e tomo um banho rápido, sendo um pouco mais cuidadosa com os botões em
que eu bato, e sigo em direção ao salão de janta. Peeta, Effie, e Haymitch
estão reunidos ao redor da mesa conversando em vozes baixas. Isso parece
estranho, mas a fome vence minha curiosidade e eu carrego meu prato com o café
da manhã antes de me juntar a eles.
O cozido
é feito com pedaços de cordeiro e ameixas secas hoje. Perfeito no fundo de
arroz selvagem. Eu despejo aproximadamente meio monte quando noto que ninguém
está falando. Tomo um grande gole de suco de laranja e seco minha boca. “Então,
o que está acontecendo? Você está me treinando para as entrevistas hoje, certo?”
“Certo,”
diz Haymitch.
“Você não
tem que esperar até eu terminar. Eu posso escutar e comer ao mesmo tempo,” digo.
“Bem,
houve alguma mudança de planos. Sobre nossa atual abordagem,” diz Haymitch.
“O que
é?” pergunto. Não estou certa sobre qual é a nossa atual abordagem. Tentando
parecer medíocre na frente dos outros tributos é o último pedaço de estratégia
que eu lembro.
Haymitch
encolhe os ombros. “Peeta me pediu para ser treinado separadamente.”
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Traição. Essa é a primeira coisa que eu sinto, o que é ridículo. Para que houvesse traição, deveria ter havido confiança antes.
Entre
Peeta e eu. E confiança não fizera parte do acordo. Somos tributos. Mas o
garoto que tinha arriscado levar uma surra para me dar pão, aquele que me
acalmou na carruagem, que me cobriu no caso da Avox ruiva, que insistiu para
que Haymitch conhecesse minhas habilidades de caça... havia alguma parte de mim
que não conseguia evitar confiar nele?
Por outro
lado, estou aliviada por podermos parar com o fingimento de sermos amigos.
Obviamente, qualquer tênue conexão que tínhamos tolamente formado tinha se
partido. E bem na hora, também.
Os Games
começam em dois dias, e confiança só será uma fraqueza. O que quer que tenha
ativado a decisão do Peeta – e eu suspeito que tenha a ver comigo ter sido
melhor que ele no treinamento – eu deveria simplesmente estar grata por isso.
Talvez ele finalmente tenha aceitado o fato de que quanto mais cedo nós
reconhecermos abertamente que somos inimigos, melhor.
“Ótimo,”
eu digo. “Então qual o cronograma?”
“Cada um
de vocês terá quatro horas com a Effie para a apresentação e quatro comigo para
conteúdo,” diz Haymitch. “Você começa com a Effie, Katniss.”
Eu não
consigo imaginar o que Effie pode me ensinar que levará quatro horas, mas ela
me põe para trabalhar até o último minuto. Vamos para o meu quarto e ela me
coloca em um vestido comprido e sapatos de salto alto, não os que eu estarei
usando para a entrevista verdadeira, e me instrui a andar. Os sapatos são a
pior parte. Eu nunca usei salto alto e eu não consigo me acostumar a
basicamente ficar balançando nas pontas dos pés.
Mas Effie
corre em cima deles o tempo todo, e eu estou determinada que se ela consegue
fazer isso, eu também consigo. O vestido oferece outro problema.
Fica
enrolando ao redor dos meus sapatos, então, é claro, eu o puxo para cima, e
então Effie lança-se sobre mim como um falcão, batendo nas minhas mãos e
gritando, “Não acima do tornozelo!” Quando eu finalmente conquisto andar, há
ainda sentar, postura – aparentemente eu tenho uma tendência de abaixar a minha
cabeça – comtato visual, gestos da mão, e sorrir. Sorrir é quase todo sobre
sorrir mais. Effie me faz dizer uma centena de frases banais começando com um
sorriso, enquanto sorrio, ou terminando com um sorriso. Na hora do almoço, os
músculos nas minhas bochechas estão contorcendo-se por uso exagerado.
“Bem,
esse é o melhor que eu consigo,” Effie diz com um suspiro. “Lembre-se, Katniss,
você quer que a audiência goste de você.”
“E você
não acha que eles gostarão?” Eu pergunto.
“Não se
você olhar feio para eles o tempo todo. Por que você não guarda isso para a
arena? Ao invés, pense que você está entre amigos,” diz Effie.
“Eles
estão apostando quanto tempo eu viverei!” Eu estouro. “Eles não são meus
amigos!”
“Bem,
tente e finja!” retruca Effie. Então ela se recompõe e sorri radiantemente para
mim. “Viu, assim. Eu estou sorrindo para você mesmo que você esteja me
irritando.”
“Sim,
parece muito convincente,” eu digo. “Eu vou comer.” Eu tiro meus saltos e piso
pesadamente até a sala de jantar, subindo minha saia até as minhas coxas.
Peeta e
Haymitch parecem estar de muito bom humor, então eu acho que a sessão de
conteúdo deve ser uma melhora dessa manhã. Eu não podia estar mais errada. Após
o almoço, Haymitch me leva para a sala de estar, me direciona para o sofá, e
então só franze a testa para mim por um tempo.
“O quê?”
Eu finalmente pergunto.
“Estou
tentando descobrir o que fazer com você,” ele diz. “Como vamos apresentá-la.
Você vai ser charmosa? Arredia? Feroz? Até agora, você está brilhando como uma
estrela. Você se voluntariou para salvar sua irmã. Cinna te fez parecer
inesquecível. Você tirou a maior nota do treinamento. As pessoas estão
intrigadas, mas ninguém sabe quem você é. A impressão que
você causar amanhã decidirá exatamente o que eu conseguirei
para você em termos de patrocinadores,” diz Haymitch.
Tendo
observado as entrevistas dos tributos a minha vida toda, eu sei que há uma
verdade no que ele está dizendo. Se você conquistar a multidão, sendo ou
humorística ou brutal ou excêntrica, você ganha boas graças.
“Qual a
abordagem do Peeta? Ou eu não posso perguntar?” Eu digo.
“Amigável.
Ele tem um tipo de humor auto-depreciativo natural,” diz Haymitch. “Enquanto
que quando você abre sua boca, você parece mais mal-humorada e hostil.”
“Não
pareço!” Eu digo.
“Por
favor. Eu não sei de onde você puxou aquela garota alegre e acenadora de antes
na carruagem, mas eu não a vi antes ou desde então,” diz Haymitch.
“E você
me deu tantas razões para ser alegre,” eu contrapus.
“Mas você
não tem que me agradar. Eu não vou te patrocinar. Então finja que eu sou a
audiência,” diz Haymitch. “Me fascine.”
“Ótimo!”
Eu rosno. Haymitch toma o papel de entrevistador e eu tento responder suas
perguntas de uma maneira vencedora. Mas eu não consigo. Eu estou nervosa demais
com Haymitch pelo que ele disse e que eu ainda tenho que responder as
perguntas. Tudo em que consigo pensar é em como o negócio todo é injusto, o
Hunger Games. Por que eu estou pulando de um lado para o outro como algum cão
treinado tentando agradar pessoas que eu odeio?
Quanto
mais a entrevista prolonga-se, mais a minha fúria parece subir à superfície,
até que eu literalmente estou cuspindo respostas para ele.
“Está
certo, chega,” ele disse. “Temos que encontrar outro ângulo. Não só você é
hostil, como eu não sei nada sobre você. Eu te fiz cinqüenta perguntas e ainda
não faço ideia da sua vida, a sua família, do que você gosta. Eles querem saber
sobre você, Katniss.”
“Mas eu
não quero que eles saibam! Eles já estão tomando o meu futuro! Eles não podem
ter as coisas que eram importantes para mim no passado!” Eu digo.
“Então
minta! Invente alguma coisa!” diz Haymitch.
“Não sou
boa mentindo,” eu digo.
“Bem, é
melhor você aprender rápido. Você tem tanto charme quanto uma lesma morta,” diz
Haymitch.
Ai. Isso
machuca. Até mesmo Haymitch deve saber que ele foi duro demais, porque sua voz
suaviza. “Tenho uma ideia. Tente agir humilde.”
“Humilde,”
eu ecoo.
“Que você
não consegue acreditar que uma menininha do Distrito Doze se deu tão bem. O
negócio todo foi mais do que você poderia ter sonhado. Fale sobre as roupas do
Cinna. Como as pessoas são legais. Como a cidade te fascina. Se você não vai falar
sobre sim, pelo menos elogie a audiência. Simplesmente fique virando de volta,
está bem. Entusiasme-se.”
As
próximas horas são agonizantes. De uma só vez, fica claro que eu não consigo me
entusiasmar. Nós tentamos eu metida, mas eu simplesmente não tenho a
arrogância. Aparentemente, eu sou “vulnerável” demais para ferocidade. Eu não
sou vivaz. Engraçada. Sexy. Ou misteriosa.
Ao final
da sessão, eu não sou ninguém. Haymitch começou a beber por volta do vivaz, e
uma beirada maldosa arrastou-se para sua voz. “Eu desisto, querida. Só responda
as perguntas e tente não deixar a audiência ver o quanto você os despreza
abertamente.”
Eu janto
naquela noite no meu quarto, pedindo um número escandaloso de iguarias, comendo
até passar mal, e então descontando minha raiva do Haymitch, dos Hunger Games,
de cada ser vivo em Capitol ao quebrar pratos pelo meu quarto. Quando a garota
do cabelo vermelho vem para arrumar minha cama, seus olhos se arregalam com a
bagunça. “Só deixa!” Eu grito para ela. “Só deixa isso em paz!”
Eu a odeio, também, com seus sabidos olhos reprovadores que
me chamam de covarde, de monstro, de fantoche de Capitol, tanto agora quanto
antes. Para ela, a justiça deve finalmente estar acontecendo. Por fim minha
morte ajudará a pagar pela vida do garoto na floresta.
Mas ao
invés de fugir da sala, a garota fecha a porta atrás de si e vai para o
banheiro. Ela volta com um pano úmido e limpa meu rosto gentilmente, então
limpa o sangue de um prato quebrado das minhas mãos. Por que ela está fazendo
isso? Por que eu estou deixando-a?
“Eu devia
ter tentando salvá-la,” eu sussurro.
Ela
balança sua cabeça. Isso significa que estávamos certos ao ficar parados? Que
ela me perdoou?
“Não, foi
errado,” eu digo.
Ela bate
em seus lábios com seus dedos e então aponta para o meu peito. Eu acho que ela
quer dizer que eu simplesmente teria acabado uma Avox, também. Provavelmente
teria. Uma Avox ou morta.
Eu passo
a próxima hora ajudando a garota ruiva limpar o quarto. Quando todo o lixo foi
jogado no dispositivo de coleta e tratamento de lixo e a comida fora limpada,
ela arruma a minha cama. Eu engatinho entre os lençóis como uma menina de cinco
anos e deixo-a me
ajeitar.
Então ela se vai. Eu quero que ela fique até eu pegar no sono. Estar lá quando
eu acordar. Eu quero a proteção dessa garota, mesmo que ela nunca tenha tido a
minha.
De manhã,
não é a garota, mas sim meu time de preparação que está sobre mim. Minhas
lições com Effie e Haymitch acabaram. Esse dia pertence ao Cinna. Ele é minha
última esperança. Talvez ele possa me fazer parecer tão maravilhosa que ninguém
ligará para o que saia da minha boca.
O time
trabalha em mim até o fim da tarde, transformando a minha pele em um cetim
resplandecente, gravando padrões nos meus braços, pintando desenhos de chamas
nas minhas vinte unhas perfeitas. Então Venia trabalha no meu cabelo,
entrelaçando tranças de vermelho em um padrão que começa no meu ouvido
esquerdo, se enrola ao redor da minha cabeça, e então cai em uma trança pelo
meu ombro direito. Eles limpam o meu rosto com uma camada de maquiagem pálida e
desenham meus traços de volta. Enormes olhos negros, lábios vermelhos cheios,
cílios que desviam um pouco de luz quando eu pisco. Finalmente, eles cobrem o
meu corpo inteiro com um pó que me faz brilhar em poeira dourada.
Então
Cinna entra com o que eu presumo ser meu vestido, mas eu não consigo realmente
ver, porque está coberto. “Feche seus olhos,” ele ordena.
Eu
consigo sentir a seda interior enquanto eles o deslizam pelo meu corpo nu,
então o peso. Deve ser uns dezoito quilos. Eu aperto a mão da Octavia enquanto
eu cegamente coloco meus sapatos, feliz por descobrir que eles são pelo menos
cinco centímetros mais baixos do que o par que a Effie me fez praticar. Há
algum ajuste e manuseio. Então silêncio.
“Posso
abrir meus olhos?” Eu pergunto.
“Sim,”
diz Cinna. “Abra-os.”
A
criatura de pé perante a mim no espelho inteiro veio de outro mundo. Onde peles
brilham e olhos relampejam e aparentemente eles fazem suas roupas de jóias.
Porque o meu vestido, ah, o meu vestido é inteiramente coberto em pedras
preciosas reflexivas, vermelhas e amarelas e brancas com um pouquinho de azul
que acentua as pontas do desenho de chamas. O movimento mais leve dá a
impressão que eu sou engolfada por línguas de fogo.
Eu não
estou bonita. Eu não estou linda. Eu estou tão radiante quanto o sol.
Por um
tempo, simplesmente me encaramos. “Ah, Cinna,” eu finalmente sussurro.
“Obrigada.”
“Gire
para mim,” ele diz. Eu estico meus braços e giro em um círculo. O time de
preparação grita em admiração.
Cinna
dispensa o time e me faz mover com o vestido e os sapatos, que são
infinitamente mais manejáveis que os da Effie. O vestido paira de tal jeito que
eu não tenho que levantar a saia quando ando, deixando-me com menos uma coisa
com a qual me preocupar.
“Então,
todo prontos para a entrevista então?” pergunta Cinna. Eu consigo ver por sua
expressão que ele está falando com Haymitch. Que ele sabe o quanto eu sou
terrível.
“Eu sou horrível. Haymitch me chamou de lesma morta. Não
importa o que tentássemos, eu não conseguia. Eu simplesmente não consigo ser
uma dessas pessoas que ele quer que eu seja,” eu digo.
Cinna
pensa nisso por um momento. “Por que você simplesmente não é você mesma?”
“Eu
mesma? Isso não é nada bom, também. Haymitch diz que eu sou mal humorada e
hostil,” eu digo.
“Bem,
você é... perto do Haymitch,” diz Cinna com um sorriso irônico. “Eu não te acho
isso. O time de preparação te adora. Você até mesmo conquistou os Gamemakers. E
quanto aos cidadãos de Capitol, bem, eles não conseguem parar de falar sobre
você. Ninguém consegue evitar admirar o seu espírito.”
Meu
espírito. Esse é um novo pensamento. Eu não tenho certeza do que exatamente
isso significa, mas sugere que eu sou uma lutadora. De um jeito meio corajoso.
Não é como se eu nunca fosse amigável. Está bem, talvez eu não saia por aí
amando todo mundo que eu conheço, talvez meus sorrisos sejam difíceis de
aparecer, mas eu realmente gosto de algumas pessoas.
Cinna
toma minhas mãos geladas nas suas quentes. “Suponha, quando você responder as
perguntas, que você acha que está se dirigindo a um amigo lá em casa. Quem
seria seu melhor amigo?” pergunta Cinna.
“Gale,”
eu digo instantaneamente. “Só que não faz muito sentido, Cinna. Eu nunca diria
essas coisas sobre mim ao Gale. Ele já as conhece.”
“E quanto
a mim? Você consegue pensar em mim como um amigo?” pergunta Cinna.
De todas
as pessoas que eu conheci desde que eu deixei minha casa, Cinna é de longe a
minha favorita. Eu gostei dele de cara e ele não me decepcionou ainda. “Eu acho
que sim, mas –”
“Eu vou
estar sentado na plataforma principal com os outros estilistas. Você será capaz
de olhar diretamente para mim. Quando te fizerem uma pergunta, me encontre, e
responda-a o mais honestamente possível,” diz Cinna.
“Mesmo se
o que eu pensar for horrível?” Eu pergunto. Porque pode ser, sério.
“Especialmente
se o que você acha é horrível,” diz Cinna. “Você tentará?”
Eu aceno.
É um plano. Ou pelo menos algo a que se agarrar.
Cedo
demais é hora de ir. A entrevista se dá em um palco construído na frente do Centro
de Treinamento. Uma vez que eu deixo o meu quarto, serão só minutos até eu
estar na frente da multidão, das câmeras, de toda Panem.
Enquanto
Cinna vira a maçaneta, eu paro sua mão. “Cina...” Eu estou completamente tomada
pelo medo de palco.
“Lembre-se,
eles já te amam,” ele diz gentilmente. “Só seja você mesma.”
Nós nos
encontramos com o resto do povo do Distrito 12 no elevador. Portia e sua gangue
tinham trabalhado arduamente. Peeta parece formidável em um terno preto com
ênfases de chama. Enquanto parecemos bem juntos, é um alívio não estar vestida
identicamente. Haymitch e Effie estão todos arrumados para a ocasião. Eu evito
Haymitch, mas aceito os elogios de Effie. Effie pode ser cansativa e tola, mas
ela não é destrutiva como o Haymitch.
Quando o elevador
abre, os outros tributos estão sendo alinhados para tomar o palco. Todos nós
vinte e quatro sentamos em um grande arco durante as entrevistas. Eu serei a
última, ou a penúltima, já que a menina tributo precede o garoto de cada
distrito. Como eu gostaria de ser a primeira e acabar com esse negócio todo!
Agora eu
terei que ouvir como todos os outros são vivazes, engraçados, humildes,
ferozes, e charmosos antes de eu ir. Além disso, a audiência vai começar a
ficar entediante, exatamente como os Gamemakers ficaram. E eu não posso
exatamente atirar uma flecha na multidão para chamar sua atenção.
Logo
antes de desfilarmos até o palco, Haymitch aparece atrás de Peeta e eu e rosna,
“Lembre-se, vocês ainda são um casal feliz. Então ajam de acordo.”
O quê? Eu
achei que tínhamos abandonado isso quando Peeta pediu um treinamento separado.
Mas acho que esse era um negócio particular, não público. De qualquer jeito,
não há
muita chance de interação agora, enquanto andamos em fila
indiana até nossos assentos e tomamos nossos lugares.
Simplesmente
pisar no palco deixa minha respiração rápida e superficial. Eu consigo sentir
minha pulsação em minhas têmporas. É um alívio ir até a minha cadeira, porque
com os saltos e as minhas pernas tremendo, eu tenho medo de tropeçar. Apesar da
noite estar caindo, a Cidade Circular é mais clara que um dia de verão. Uma
unidade de assentos elevados foi organizada para os convidados de prestígio,
com os estilistas comandando a fileira da frente. As câmeras irão se virar para
eles quando a multidão estiver reagindo ao seu trabalho. Uma enorme sacada de
uma construção lateral foi reservada para os Gamemakers. Equipes de televisão
reinvindicaram a maioria das outras sacadas. Mas a Cidade Circular e as
avenidas que a alimentam estão completamente lotadas de pessoas. Uma sala só
para espectadores. Nas casas e salões comunitários pelo país, cada televisão
está ligada. Cada cidadão de Panem está atento. Não haverá apagões hoje.
Caesar
Flickerman, o homem que faz as entrevistas por mais de quarenta anos, saltita
pelo palco. É um pouco assustador, porque sua aparência permaneceu virtualmente
imutável durante todo esse tempo. Mesmo rosto debaixo de uma camada de
maquiagem branca pura. Mesmo penteado que ele tinge de uma cor diferente para
cada Hunger Games. Mesmo terno de cerimônia, azul escuro pingado com mil
minúsculos bulbos elétricos que piscam como estrelas.
Eles
fazem cirurgia em Capitol, para fazer as pessoas parecerem mais jovens e mais
magras. No Distrito 12, parecer velho é meio que uma realização, já que tantas
pessoas morrem cedo. Você vê uma pessoa idosa e quer parabenizá-la por sua
longevidade, perguntar o segredo da sobrevivência. Uma pessoa rechonchuda é
invejada porque ela não está apenas sobrevivendo
dia a dia
como a maioridade de nós. Mas aqui é diferente. Rugas não são desejáveis. Uma
barriga redonda não é um sinal de sucesso.
Esse ano,
o cabelo de Caesar é azul acinzentado e suas pálpebras e lábios estão cobertos
com a mesma matiz. Ele parece bizarro, mas menos assustador do que no ano
passado, quando sua cor fora carmesim e ele parecera estar sangrando. Caesar
conta algumas piadas para aquecer a audiência, mas então parte para os negócios.
A garota
tributo do Distrito 1, parecendo provocadora em um vestido dourado
transparente, anda até o centro do palco para se juntar a Caesar para sua
entrevista. Você consegue afirmar que seu mentor não teve problema algum em
bolar um ângulo para ela. Com aquele cabelo loiro flutuante, olhos verde
esmeralda, seu corpo alto e exuberante... ela é totalmente sexy.
Cada
entrevista dura apenas três minutos. Então uma campainha soa e é a vez do
próximo tributo. Eu digo isso do Caesar, ele realmente faz seu melhor para
deixar os tributos brilharem. Ele á amigável, tenta deixar os nervosos à
vontade, ri de umas piadas podres, e consegue transformar uma resposta fraca em
uma memorável somente pelo jeito com que ele reage.
Eu sento
como uma dama, do jeito que Effie me mostrou, enquanto os distritos deslizam.
2, 3, 4. Todos parecem estar jogando de algum ângulo.
O garoto
monstruoso do Distrito 2 é uma máquina de matar cruel. A garota de rosto de
raposa do Distrito 5 é dissimulada e elusiva, Eu avistei Cinna assim que ele
tomou seu lugar, mas até mesmo sua presença não conseguiu me relaxar. 8, 9, 10.
O garoto aleijado do 10 é bem quieto. Minhas palmas estão suando adoidadas, mas
o vestido encravado de jóias não é absorvente e elas derrapam diretamente por
ele se eu tento secá-las. 11.
Rue, que
está vestida em um vestido diáfano completo com asas, flutua até Caesar. Um
silêncio cai sobre a multidão ao sinal mágico dessa pequena e delicada tributo.
Caesar é muito doce com ela, elogiando o seu sete no treinamento, uma nota
excelente para alguém tão pequeno. Quando ele pergunta a ela qual sua maior
habilidade na arena será, ela não hesita. “Eu sou muito difícil de se
capturar,” ela diz em uma voz trêmula. “E se eles não puderem me pegar, eles
não podem me matar. Então não descarte.”
“Eu não
iria em um milhão de anos,” diz Caesar encorajadoramente.
O garoto tributo do Distrito 11, Thresh, tem a mesma pele
negra de Rue, mas as semelhanças param ali. Ele é um dos gigantes,
provavelmente um metro e noventa e cinco e o porte de um boi, mas eu notei que
ele rejeitou os convites dos Tributos Profissionais de juntar a seu grupo. Ao
invés, ele tem estado bastante solitário, falando com ninguém, mostrando pouco
interesse no treinamento. Mesmo assim, ele conseguiu um dez e não é difícil de
imaginar que ele impressionou os Gamemakers. Ele ignora as tentativas de Caesar
de brincadeira e responde com um sim ou não simplesmente permanecendo em
silêncio.
Se eu ao
menos fosse do tamanho dele, eu podia me safar sendo mal humorada e hostil e
ficaria tudo bem! Eu aposto que metade dos patrocinadores estão pelo menos
considerando-o. Se eu tivesse algum dinheiro, eu mesma apostaria nele.
E então
eles estão chamando Katniss Everdeen, e eu me sinto, como se em um sonho,
levantar e andar até o centro do palco. Eu aperto a mão esticada de Caesar, e
ele tem os bons modos de não limpar imediatamente a sua mão em seu terno.
“Então,
Katniss, Capitol deve ser uma mudança e tanto do Distrito Doze. O que mais te
impressionou desde que você chegou aqui?” pergunta Caesar.
O quê? O
que ele disse? É como se as palavras não fizessem sentido algum.
Minha
boca ficou seca como serragem. Eu desesperadamente encontro Cinna na multidão e
travo meus olhos com ele. Eu imagino as palavras saindo de seus lábios. “O que
mais te impressionou desde que você chegou aqui?” Eu vasculho meu cérebro por
algo que me fez feliz aqui. Seja honesta, eu penso. Seja honesta.
“O cozido
de cordeiro,” eu saio.
Caesar
ri, e eu vagamente percebo que parte da audiência se juntou a ele.
“Aquela
com as ameixas secas?” pergunta Caesar. Eu aceno. “Ah, eu o como de monte.” Ele
se vira de lateral para audiência com terror, a mão em seu estômago. “É
notável, não é?” Eles gritam reassegurações de volta a ele e aplaudem. Isso é o
que eu quis dizer sobre Caesar. Ele tenta te ajudar.
“Agora,
Katniss,” ele diz confiantemente, “Quando você saiu na cerimônia de abertura,
meu coração realmente parou. O que você achou daquele traje?”
Cinna
levanta uma sobrancelha para mim. Seja honesta. “Você quer dizer depois de eu
ter superado meu medo de ser queimada viva?” Eu pergunto.
Uma
risada alta. Uma real da audiência.
“Sim.
Comece aí,” diz Caesar.
Cinna,
meu amigo, eu deveria dizer a ele de qualquer jeito. "Eu achei que Cinna
foi brilhante e foi o traje mais lindo que eu já vi e eu não consegui acreditar
que estava usando ele. Eu não consigo acreditar que estou usando isso,
tampouco.” Eu levanto minha saia para espalhá-la. “Quero dizer, olhe para ela!”
Enquanto
a audiência faz oohs e aahs, eu vejo Cinna fazer o menor movimento circular com
seu dedo. Mas eu sei o que ele está dizendo.
Gire para
mim.
Eu rodo
em uma círculo uma vez e a reação é imediata.
“Ah, faça
isso novamente!” diz Ceaser, e então eu levanto meus braços e rodopio ao redor
sem parar, deixando a saia voar para cima, deixando o vestido me engolfar em
chamas. A audiência começa a aplaudir. Quando eu paro, eu aperto o braço de
Caesar.
“Não
pare!” ele diz.
“Eu
preciso, estou tonta!” Eu também estou dando risinhos, o que eu acho que nunca
fiz em minha vida. Mas o nervosismo e os rodopios ganharam de mim.
Caesar
envolve um braço protetor ao meu redor. “Não se preocupe, estou com você. Não
posso fazê-la seguir os passos do seu mentor.”
Todos
estão vaiando enquanto as câmeras acham Haymitch, que agora já é famoso por seu
mergulho de cabeça na colheita, e ele acena para ele de um jeito bom humorado e
aponta de volta para mim.
“Está tudo bem,” Caesar assegura à multidão. “Ela está
segura comigo. Então, e quanto a nota do treinamento. On-ze. Dê-nos uma dica do
que aconteceu lá.”
Eu olho
para os Gamemakers na sacada e mordo meu lábio.
“Hm...
tudo que eu posso dizer é que acho que foi inédito.”
As câmeras
estão bem nos Gamemakers, que estão rindo e assentindo.
“Você
está nos matando,” diz Caesar como se estivesse com uma dor real. “Detalhes.
Detalhes.”
Eu me
dirijo a sacada. “Não devo falar sobre isso, certo?”
O
Gamemaker que caiu na tigela de ponche grita, “Ela não deve!”
“Obrigada,”
eu digo. “Desculpa. Meus lábios estão selados.”
“Vamos
voltar então para o momento que chamam o nome da sua irmã na colheita,” diz
Caesar. Seu humor está mais silencioso agora.
“E você
se voluntariou. Pode nos falar sobre ela?”
Não. Não,
não para todos vocês. Mas talvez para Cinna. Eu não acho que estou imaginando a
tristeza em seu rosto. “Seu nome é Prim. Ela só tem doze anos. E eu a amo mais
que tudo.”
Você
conseguia ouvir um alfinete cair na Cidade Circular agora.
“O que
ela disse para você; Depois da colheita?” Caesar pergunta.
Seja
honesta. Seja honesta. Eu engulo em seco. “Ela me pediu para tentar arduamente
ganhar.” A audiência está congelada, segurando-se em cada palavra minha.
“E o que
você disse?” Caesar estimulou gentilmente.
Mas ao
invés de calor, eu sinto uma gelada rigidez tomar conta do meu corpo. Meus
músculos ficam tensos como quando antes de uma matança. Quando eu falo, minha
voz parece ter caído uma oitava. “Eu jurei que iria.”
“Aposto
que sim,” diz Caesar, dando-me um apertão. A campainha soa. “Desculpa, nosso
tempo acabou. Muita sorte, Katniss Everdeen, tributo do Distrito Doze.”
Os
aplausos continuam por muito tempo depois de eu estar sentada. Eu olho para
Cinna para tranquilização. Ele me dá um jóia sutil.
Eu ainda
estou maravilhada na primeira parte da entrevista de Peeta. Ele conquista a
audiência de cara, contudo; eu os ouço rindo, gritando. Ele joga com o negócio
de filho do padeiro, comparando os tributos com os pães de seus distritos.
Então tem uma anedota engraçada sobre os riscos dos chuveiros de Capitol.
“Diga-me,
eu cheiro a rosas?” ele pergunta a Caesar, e então há toda uma cena onde eles
se revezam cheirando um ao outro, o que traz a casa abaixo.
Eu estou
voltando a prestar atenção quando Caesar pergunta a ele se ele tem uma namorada
em casa.
Peeta
hesita, então dá uma sacudidade não convincente de sua cabeça.
“Um rapaz
bonito como você. Deve haver uma garota especial. Vamos, qual o nome dela?” diz
Caesar.
Peeta
suspira. “Bem, tem essa garota. Eu tenho uma queda por ela desde que consigo me
lembrar. Mas tenho bastante certeza de que ela nem mesmo sabia que eu estava
vivo até a colheita.”
Sons de
simpatia da multidão. Eles encontram ligação com amor platônico.
“Ela tem
outro cara?” pergunta Caesar.
“Eu não
sei, mas muitos outros garotos gostam dela,” diz Peeta.
“Então,
faça o seguinte. Ganhe, volte para casa. Ela não pode te recusar então, hein?”
diz Caesar encorajadoramente.
“Eu não
acho que vai funcionar. Ganhar... não vai ajudar no meu caso,” diz Peeta.
“Por que
não?” diz Caesar, perplexo.
Peeta
cora um tom de beterraba e gagueja. “Porque... porque... ela veio aqui
comigo.”
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